sexta-feira, 17 de julho de 2009

Declaração dos Direitos das Crianças

HOMEM

Homem
Abre os olhos e verás
Em cada outro homem um irmão.

Homem
As paixões que te consomem
Não são boas nem más.
São a tua condição.

A paz,
Porém, só a terás
Quando o pão que os outros comem,
Homem,
For igual ao teu pão.

Armindo Rodrigues in Ferreira, Catarina (org.). Brincar também é poesia. Lisboa: Plátano d., 1987, p.107.



BALADA DA NEVE

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim…
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim…

É talvez a ventania;
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudade, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
– depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos… enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza…
– e cai no meu coração.

* Augusto Gil in Varanda, Maria de Lourdes e Santos, Maria Manuela (org.).Poetas de hoje e de ontem – Para os mais Novos. s/l: Ed. Chimpanzé Intelectual, 2007, pp.84-85.


Recolha colectiva

* Obra do acervo da Biblioteca desta escola.

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