tag:blogger.com,1999:blog-41875273690457100502024-03-21T01:10:26.777+00:00O Cantinho das PalavrasPROJECTO DO CURSO EFA B3
ESCOLA EB 2,3 DE VALONGO (2008/2009)O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.comBlogger48125tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-77473852525757626882009-07-17T12:00:00.021+01:002009-07-30T12:28:52.026+01:00Boas Férias!<div><embed src="http://widget-5b.slide.com/widgets/slideticker.swf" type="application/x-shockwave-flash" quality="high" scale="noscale" salign="l" wmode="transparent" flashvars="cy=ok&il=1&channel=3314649325769156187&site=widget-5b.slide.com" style="width:426px;height:320px" name="flashticker" align="middle"></embed><div style="width:426px;text-align:left;"><a href="http://www.slide.com/pivot?cy=ok&ct=1&at=un&id=3314649325769156187&map=1" target="_blank"><img src="http://widget-5b.slide.com/d1/3314649325769156187/ok_t024_v000_s0un_f00/images/xslide12.gif" border="0" ismap="ismap" /></a> <a href="http://www.slide.com/pivot?cy=ok&ct=1&at=un&id=3314649325769156187&map=2" target="_blank"><img src="http://widget-5b.slide.com/d2/3314649325769156187/ok_t024_v000_s0un_f00/images/xslide2.gif" border="0" ismap="ismap" /></a></div></div><br /><br /><em><strong>A criatura estudiosa que trazes dentro de ti, o inquieto ser espiritual que encarna a tua verdadeira personalidade, guia-te ao longo da tua vida. Não vires as costas a eventuais futuros sem antes teres a certeza de que nada poderás aprender com eles.</strong></em><br /><br /><strong>Bach, Richard</strong> - <em>Ilusões</em>.O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-38383715408046202302009-07-17T12:00:00.014+01:002009-07-20T00:25:16.937+01:00Declaração dos Direitos das Crianças<strong><strong>HOMEM</strong></strong><br /><br />Homem<br />Abre os olhos e verás<br />Em cada outro homem um irmão.<br /><br />Homem<br />As paixões que te consomem<br />Não são boas nem más.<br />São a tua condição.<br /><br />A paz,<br />Porém, só a terás<br />Quando o pão que os outros comem,<br />Homem, <br />For igual ao teu pão.<br /><br /><strong>Armindo Rodrigues in Ferreira, Catarina</strong> (org.). <em>Brincar também é poesia</em>. Lisboa: Plátano d., 1987, p.107.<br /><br /><div style="width:477px;text-align:left" id="__ss_1741411"><a style="font:14px Helvetica,Arial,Sans-serif;display:block;margin:12px 0 3px 0;text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes/declarao-dos-direitos-das-crianas-1741411" title="Declaração dos Direitos das Crianças">Declaração dos Direitos das Crianças</a><object style="margin:0px" width="477" height="510"><param name="movie" value="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayerd.swf?doc=reformuladodireitosdascrianas-090719181416-phpapp01&stripped_title=declarao-dos-direitos-das-crianas-1741411" /><param name="allowFullScreen" value="true"/><param name="allowScriptAccess" value="always"/><embed src="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayerd.swf?doc=reformuladodireitosdascrianas-090719181416-phpapp01&stripped_title=declarao-dos-direitos-das-crianas-1741411" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="477" height="510"></embed></object><div style="font-size:11px;font-family:tahoma,arial;height:26px;padding-top:2px;">View more <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/">presentations</a> from <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes">maria.j.fontes</a>.</div></div><br /><br /><em>BALADA DA NEVE</em><br /><br />Batem leve, levemente, <br />como quem chama por mim… <br />Será chuva? Será gente? <br />Gente não é, certamente <br />e a chuva não bate assim…<br /><br />É talvez a ventania;<br />mas há pouco, há poucochinho, <br />nem uma agulha bulia <br />na quieta melancolia <br />dos pinheiros do caminho...<br /><br />Quem bate, assim, levemente, <br />com tão estranha leveza, <br />que mal se ouve, mal se sente? <br />Não é chuva, nem é gente, <br />nem é vento com certeza.<br /><br />Fui ver. A neve caía <br />do azul cinzento do céu, <br />branca e leve, branca e fria... <br />Há quanto tempo a não via! <br />E que saudade, Deus meu!<br /><br />Olho-a através da vidraça. <br />Pôs tudo da cor do linho. <br />Passa gente e, quando passa, <br />os passos imprime e traça <br />na brancura do caminho...<br /><br />Fico olhando esses sinais <br />da pobre gente que avança, <br />e noto, por entre os mais, <br />os traços miniaturais <br />duns pezitos de criança...<br /><br />E descalcinhos, doridos... <br />a neve deixa inda vê-los, <br />primeiro, bem definidos, <br /> – depois, em sulcos compridos, <br />porque não podia erguê-los!...<br /><br />Que quem já é pecador <br />sofra tormentos… enfim! <br />Mas as crianças, Senhor, <br />porque lhes dais tanta dor?!... <br />Porque padecem assim?!...<br /><br />E uma infinita tristeza, <br />uma funda turbação <br />entra em mim, fica em mim presa. <br />Cai neve na natureza… <br /> – e cai no meu coração.<br /><br /><strong>* Augusto Gil in Varanda, Maria de Lourdes e Santos, Maria Manuela</strong> (org.).<em>Poetas de hoje e de ontem – Para os mais Novos</em>. s/l: Ed. Chimpanzé Intelectual, 2007, pp.84-85.<br /><br /><br /><strong>Recolha colectiva<br /><br />* Obra do acervo da Biblioteca desta escola.</strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-59931520254325378742009-07-17T11:59:00.041+01:002009-07-21T22:30:57.382+01:00Direitos do Consumidor/Consumismo<div><embed src="http://widget-3f.slide.com/widgets/slideticker.swf" type="application/x-shockwave-flash" quality="high" scale="noscale" salign="l" wmode="transparent" flashvars="cy=ok&il=1&channel=3314649325769113919&site=widget-3f.slide.com" style="width:426px;height:320px" name="flashticker" align="middle"></embed><div style="width:426px;text-align:left;"><a href="http://www.slide.com/pivot?cy=ok&ct=1&at=un&id=3314649325769113919&map=1" target="_blank"><img src="http://widget-3f.slide.com/d1/3314649325769113919/ok_t014_v000_s0un_f00/images/xslide12.gif" border="0" ismap="ismap" /></a> <a href="http://www.slide.com/pivot?cy=ok&ct=1&at=un&id=3314649325769113919&map=2" target="_blank"><img src="http://widget-3f.slide.com/d2/3314649325769113919/ok_t014_v000_s0un_f00/images/xslide2.gif" border="0" ismap="ismap" /></a></div></div><br /><strong>* 1ª Feira da Saúde AVVL</strong><br /><br /><strong>Os Supermercados</strong><br /> <br />Os supermercados são os palácios dos pobres. Não são só os azarentos e os mal alojados, os que ao longo das gerações foram reduzindo os gastos da imaginação, que frequentam e, de certo modo, vivem o supermercado, as chamadas grandes superfícies. As grandes superfícies com a sua área iluminada e sempre em festa; a concentração dos prazeres correntes, como a alimentação e a imagem oferecida pelo cinema, satisfazem as pequenas ambições do quotidiano. Não há euforia mas há um sentimento de parentesco face às limitações de cada um. A chuva e o calor são poupados aos passeantes; a comida ligeira confina com a dieta dos adolescentes; há uma emoção própria que paira nas naves das grandes superfícies. São as catedrais da conveniência, dão a ilusão de que o sol quando nasce é para todos e que a cultura e a segurança estão ao alcance das pequenas bolsas. Não há polícia, há uma paz de transeunte que a cidade já não oferece. <br /><br /><strong>Bessa-Luís, Agustina</strong> - <em>Antes do Degelo</em><br /><br /><div style="width:425px;text-align:left" id="__ss_1741368"><a style="font:14px Helvetica,Arial,Sans-serif;display:block;margin:12px 0 3px 0;text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes/direitos-e-deveres-do-consumidor" title="Direitos e Deveres do Consumidor">Direitos e Deveres do Consumidor</a><object style="margin:0px" width="425" height="355"><param name="movie" value="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayer2.swf?doc=reformuladodireitosedeveresdoconsumidor-090719174457-phpapp01&stripped_title=direitos-e-deveres-do-consumidor" /><param name="allowFullScreen" value="true"/><param name="allowScriptAccess" value="always"/><embed src="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayer2.swf?doc=reformuladodireitosedeveresdoconsumidor-090719174457-phpapp01&stripped_title=direitos-e-deveres-do-consumidor" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="355"></embed></object><div style="font-size:11px;font-family:tahoma,arial;height:26px;padding-top:2px;">View more <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/">presentations</a> from <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes">maria.j.fontes</a>.</div></div><br /><br /><strong>Consumismo Cego</strong> <br /><br />A nossa vida é influenciada em grande medida pelos jornais. A publicidade é feita unicamente no interesse dos produtores e nunca dos consumidores. Por exemplo, convenceu-se o público de que o pão branco é superior ao pão escuro. A farinha, cada vez mais finamente peneirada, foi privada dos seus princípios mais úteis. Mas conserva-se melhor e o pão faz-se mais facilmente. Os moleiros e os padeiros ganham mais dinheiro. Os consumidores comem, sem o saber, um produto inferior. E em todos os países em que o pão é a parte principal da alimentação, as populações degeneram. Gastam-se enormes quantias na publicidade comercial. Assim, imensos produtos alimentares e farmacêuticos inúteis, e muitas vezes prejudiciais, tornaram-se uma necessidade para os homens civilizados. Deste modo, a avidez dos indivíduos suficientemente hábeis para orientar o gosto das massas populares para os produtos à venda desempenha um papel capital na nossa civilização. <br /><br /><strong>Carrel, Alexis</strong> - <em>O Homem esse Desconhecido</em><br /><br /><strong>Textos recolhidos colectivamente.</strong><br /><br /><strong>* Trabalho elaborado no âmbito do Tema de Vida 2 (Ambiente e Cidadania).</strong><br /><br /><div><embed src="http://widget-ec.slide.com/widgets/slideticker.swf" type="application/x-shockwave-flash" quality="high" scale="noscale" salign="l" wmode="transparent" flashvars="cy=ok&il=1&channel=3314649325769151212&site=widget-ec.slide.com" style="width:426px;height:320px" name="flashticker" align="middle"></embed><div style="width:426px;text-align:left;"><a href="http://www.slide.com/pivot?cy=ok&ct=1&at=un&id=3314649325769151212&map=1" target="_blank"><img src="http://widget-ec.slide.com/d1/3314649325769151212/ok_t060_v000_s0un_f00/images/xslide12.gif" border="0" ismap="ismap" /></a> <a href="http://www.slide.com/pivot?cy=ok&ct=1&at=un&id=3314649325769151212&map=2" target="_blank"><img src="http://widget-ec.slide.com/d2/3314649325769151212/ok_t060_v000_s0un_f00/images/xslide2.gif" border="0" ismap="ismap" /></a></div></div><br /><strong><br />* Visita de estudo ao Museu da Chapelaria - S. João da Madeira</strong><br /><br /><strong>Quando ela pôs o chapéu</strong><br /><br />Quando ela pôs o chapéu<br />Como se tudo acabasse,<br />Sofri de não haver véu<br />Que inda um pouco a demorasse.<br /><br /><strong>Fernando Pessoa</strong><br /><br /><br /><strong>* Actividades realizadas no âmbito dos Temas de Vida 2 (Ambiente e Cidadania) e 3 (Somos Consumidores).</strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-66877632950158382002009-07-17T11:59:00.035+01:002009-07-21T17:00:48.333+01:00Dependências - Estupefacientes e Outras Substâncias Viciantes<div style="width:425px;text-align:left" id="__ss_1749181"><a style="font:14px Helvetica,Arial,Sans-serif;display:block;margin:12px 0 3px 0;text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes/tipos-de-drogas-1749181" title="Tipos de Drogas">Tipos de Drogas</a><object style="margin:0px" width="425" height="355"><param name="movie" value="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayer2.swf?doc=ostiposdedrogasb3-090721105140-phpapp01&stripped_title=tipos-de-drogas-1749181" /><param name="allowFullScreen" value="true"/><param name="allowScriptAccess" value="always"/><embed src="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayer2.swf?doc=ostiposdedrogasb3-090721105140-phpapp01&stripped_title=tipos-de-drogas-1749181" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="355"></embed></object><div style="font-size:11px;font-family:tahoma,arial;height:26px;padding-top:2px;">View more <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/">presentations</a> from <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes">maria.j.fontes</a>.</div></div><br /><br /><strong>* Trabalho efectuado no âmbito do Tema de vida 1 (Saúde) e em articulação com a 1ª Feira da Saúde AVVL.</strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-81990857670701704532009-07-17T11:59:00.029+01:002009-07-20T00:25:05.205+01:00Energias Renováveis/Ecologia<strong>Sociedade do Desperdício </strong><br /><br />Uma tentação imediata do nosso tempo é o desperdício. Não é só resultado duma invenção constante da oferta que leva ao apetite do consumo, como é, sobretudo, uma forma de aristocracia técnica. O tecnocrata, novo aristocrata da inteligência artificial, dos números e dos computadores, propõe uma sociedade de dissipação. Propõe-na na medida em que favorece os métodos de maior rendimento e a rapina dos recursos naturais. As hormonas que fazem crescer uma vitela em três meses, as árvores que dão fruto três vezes por ano, tudo obriga a natureza a render mais. Para quê? Para que os alimentos se amontoem nas lixeiras e os desperdícios de cozinha ou de vestuário sirvam afinal para descrever o <em>bluff</em> da produtividade. <br /><br /><strong>Bessa-Luís, Agustina</strong> - <em>Dicionário Imperfeito</em><br /><div style="width:425px;text-align:left" id="__ss_1741303"><a style="font:14px Helvetica,Arial,Sans-serif;display:block;margin:12px 0 3px 0;text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes/energias-renovveis-1741303" title="Energias Renováveis">Energias Renováveis</a><object style="margin:0px" width="425" height="355"><param name="movie" value="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayer2.swf?doc=energiasn2-090719172447-phpapp02&stripped_title=energias-renovveis-1741303" /><param name="allowFullScreen" value="true"/><param name="allowScriptAccess" value="always"/><embed src="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayer2.swf?doc=energiasn2-090719172447-phpapp02&stripped_title=energias-renovveis-1741303" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="355"></embed></object><div style="font-size:11px;font-family:tahoma,arial;height:26px;padding-top:2px;">View more <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/">presentations</a> from <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes">maria.j.fontes</a>.</div></div><br /><br /><strong>Correspondências </strong><br /><br />A natureza é um templo augusto, singular, <br />Que a gente ouve exprimir em língua misteriosa; <br />Um bosque simbolista onde a árvore frondosa <br />Vê passar os mortais, e segue-os com o olhar. <br /><br />Como distintos sons que ao longe vão perder-se, <br />Formando uma só voz, de uma rara unidade, <br />Tem vasta como a noite a claridade, <br />Sons, perfumes e cor logram corresponder-se <br /><br />Há perfumes subtis de carnes virginais, <br />Doces como o oboé, verdes como o alecrim, <br />E outros, de corrupção, ricos e triunfais <br /><br />Como o âmbar e o musgo, o incenso e o benjoim, <br />Entoando o louvor dos arroubos ideais, <br />Com a larga expansão das notas d'um clarim. <br /><br /><strong>Baudelaire, Charles</strong> - "As Flores do Mal" (Tradução de Delfim Guimarães) <br /><br /><strong>Textos recolhidos colectivamente.</strong><br /><br /><strong>* Trabalho Efectuado no âmbito do Tema de Vida 2 (Cidadania e Ambiente).</strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-65662702962926000702009-07-13T20:02:00.001+01:002009-07-13T20:14:38.420+01:00Dependências - Tabagismo<strong>ÁLCOOL, FUMO E CAFÉ</strong><br /><br />Não mais o álcool, <br />não mais o fumo, <br />de azulado rumo, <br />nem o café. <br />Resta-me a fé<br />num áureo aprumo. <br />Não me consumo. <br />Sei como é.<br /><br />Os nervos cansam <br />e vão partir-se.<br />A voz de Circe <br />ouço-a ainda... <br />E, mais mais linda, <br />ainda me chama, <br />e, embora lama, <br />quero-lhe ainda.<br /><br />Mas quero quietos <br />os meus sentidos, <br />comprometidos <br />em ascensões.<br />As sensações <br />hei-de chamá-las, <br />purificá-las<br />com comunhões.<br /><br />Resto sedento, <br />desalentado. . . <br />Quem a meu lado <br />no funeral? <br />Negro portal <br />hei-de quebrá-lo. <br />Cantar de galo <br />sobre o coval.<br /><br />(As mãos daquela <br />que se dizia<br />tão minha amiga <br />já se sumiram... <br />Vagas sorriram <br />outras derrotas... <br />Ignotas rotas<br />as poluíram...)<br /><br />E as tardes brancas <br />hei-de esposá-las. <br />Não quero galas <br />na minha boda. <br />Bailem em roda <br />só as crianças <br />ingénuas danças<br />à sua moda.<br /><br />Se um homem cumpre <br />o seu destino,<br />não vão sem tino <br />mexer na obra.<br />É como a cobra<br />que fere o seio <br />quem, de permeio, <br />altera a obra.<br /><br />De qualquer forma <br />sigo o meu rumo, <br />num áureo aprumo, <br />cheio de fé.<br />Sem o café,<br />sem o tabaco, <br />cortar o opaco<br />sei como é.<br /><br /><br /><strong>Dias, Saul</strong> - <em>Obra Poética</em>.Porto, Brasília Editora, 1980, pp. 52-54<br /><br /><br /><div style="width:425px;text-align:left" id="__ss_1716101"><a style="font:14px Helvetica,Arial,Sans-serif;display:block;margin:12px 0 3px 0;text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes/tabagismo-1716101" title="Tabagismo">Tabagismo</a><object style="margin:0px" width="425" height="355"><param name="movie" value="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayer2.swf?doc=tabagismoreformulado-090713140724-phpapp02&stripped_title=tabagismo-1716101" /><param name="allowFullScreen" value="true"/><param name="allowScriptAccess" value="always"/><embed src="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayer2.swf?doc=tabagismoreformulado-090713140724-phpapp02&stripped_title=tabagismo-1716101" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="355"></embed></object><div style="font-size:11px;font-family:tahoma,arial;height:26px;padding-top:2px;">View more <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/">presentations</a> from <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes">maria.j.fontes</a>.</div></div><br /><br /><strong>VÍCIO DE FUMAR</strong><br /><br />Dentro de um milhão de anos, <br />ou talvez pouco menos compreendas <br />que fumando assisti ao trânsito dos dias <br />e em círculos de fumo percebi palavras de ternura. <br /><br />Então descobrirás que havia coisas simples, <br />rostos, pedras e pernas <br />quebrando a frialdade das manhãs <br />e um mundo que era de homens, bichos, crianças. <br /><br />Então talvez entendas <br />porque passei fumando as curvas dolorosas, <br />porque fumando escrevi poemas <br />e a fumar testemunhei a crueldade. <br /><br />Mesmo que nada digas – e mais vale o silêncio – <br />mesmo que nada faças, mesmo que te comovas, <br />– na distância de fumo a separar-nos – sentirás <br />onde era o coração, um peso ou uma lágrima? <br /><br />Onde eram os lábios uma dor ou um fumo <br />que deixei nos cafés, que entreguei nos beijos, <br />que guardei, inútil património, nas gavetas com contas. <br /><br />Então calcularás quantas foram as vezes <br />em que falei com Deus, em que estive sozinho, <br />quantos crimes inúteis pratiquei, <br />quando fui anjo sem o perceber. <br /><br />Na tua solidão, procurarás nos bolsos um cigarro <br />e não o fumarás. <br /><br /><strong>António Rebordão Navarro</strong>,<em> Amanhã</em>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-10700491847773649432009-07-13T20:00:00.001+01:002009-07-13T20:19:34.910+01:00Dependências - Alcoolismo<strong>Álcool </strong><br /><br />Guilhotinas, pelouros e castelos <br />Resvalam longamente em procissão; <br />Volteiam-me crepúsculos amarelos, <br />Mordidos, doentios de roxidão. <br /><br />Batem asas d'auréola aos meus ouvidos, <br />Grifam-me sons de cor e de perfumes, <br />Ferem-me os olhos turbilhões de gumes, <br />Desce-me a alma, sangram-me os sentidos. <br /><br />Respiro-me no ar que ao longe vem, <br />Da luz que me ilumina participo; <br />Quero reunir-me, e todo me dissipo - <br />Luto, estrebucho... Em vão! Silvo pra além... <br /><br />Corro em volta de mim sem me encontrar... <br />Tudo oscila e se abate como espuma... <br />Um disco de ouro surge a voltear... <br />Fecho os meus olhos com pavor da bruma... <br /><br />Que droga foi a que me inoculei? <br />Ópio d'inferno em vez de paraíso?... <br />Que sortilégio a mim próprio lancei? <br />Como é que em dor genial eu me eterizo? <br /><br />Nem ópio nem morfina. O que me ardeu, <br />Foi alcool mais raro e penetrante: <br />É só de mim que eu ando delirante - <br />Manhã tão forte que me anoiteceu. <br /><br /><strong>Sá-Carneiro, Mário de</strong> - <em>Dispersão</em><br /><br /><br /><div style="width:425px;text-align:left" id="__ss_1716063"><a style="font:14px Helvetica,Arial,Sans-serif;display:block;margin:12px 0 3px 0;text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes/alcoolismo-1716063" title="Alcoolismo">Alcoolismo</a><object style="margin:0px" width="425" height="355"><param name="movie" value="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayer2.swf?doc=alcoolismoreformulado-090713135610-phpapp02&stripped_title=alcoolismo-1716063" /><param name="allowFullScreen" value="true"/><param name="allowScriptAccess" value="always"/><embed src="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayer2.swf?doc=alcoolismoreformulado-090713135610-phpapp02&stripped_title=alcoolismo-1716063" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="355"></embed></object><div style="font-size:11px;font-family:tahoma,arial;height:26px;padding-top:2px;">View more <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/">presentations</a> from <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes">maria.j.fontes</a>.</div></div><br /><strong>Bendito Sejas </strong><br /><br />Bendito sejas, <br />Meu verdadeiro conforto <br />E meu verdadeiro amigo! <br /><br />Quando a sombra, quando a noite <br />Dos altos céus vem descendo, <br />A minha dor, <br />Estremecendo, acorda... <br /><br />A minha dor é um leão <br />Que lentamente mordendo <br />Me devora o coração. <br /><br />Canto e choro amargamente; <br />Mas a dor, indiferente, <br />Continua... <br /><br />Então, <br />Febril, quase louco, <br />Corro a ti, vinho louvado! <br />- E a minha dor adormece, <br />E o leão é sossegado. <br /><br />Quanto mais bebo mais dorme: <br />Vinho adorado, <br />O teu poder é enorme! <br /><br />E eu vos digo, almas em chaga, <br />Ó almas tristes sangrando: <br />Andarei sempre <br />Em constante bebedeira! <br /><br />Grande vida! <br /><br />- Ter o vinho por amante <br />E a morte por companheira! <br /><br /><strong>Botto, António</strong> - <em>Canções</em>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-56241585217445077532009-07-10T14:13:00.058+01:002009-07-21T21:44:14.478+01:00Grandes Mestres<div style="width:477px;text-align:left" id="__ss_1750082"><a style="font:14px Helvetica,Arial,Sans-serif;display:block;margin:12px 0 3px 0;text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes/cames-o-homem-e-a-obra-1750082" title="Camões, o homem e a obra">Camões, o homem e a obra</a><object style="margin:0px" width="477" height="510"><param name="movie" value="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayerd.swf?doc=2reformuladaapresentao1cames-cpia-cpia-cpia-090721142652-phpapp02&stripped_title=cames-o-homem-e-a-obra-1750082" /><param name="allowFullScreen" value="true"/><param name="allowScriptAccess" value="always"/><embed src="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayerd.swf?doc=2reformuladaapresentao1cames-cpia-cpia-cpia-090721142652-phpapp02&stripped_title=cames-o-homem-e-a-obra-1750082" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="477" height="510"></embed></object><div style="font-size:11px;font-family:tahoma,arial;height:26px;padding-top:2px;">View more <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/">presentations</a> from <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes">maria.j.fontes</a>.</div></div><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIF5bZC6GTUepwIHschRQMUthj1nPS-ngE4hdhKsBA2oRYwcvmNYg5nNf-FXkE8ftvB8kSzGJSNbtNr8aOet-6SRXoiBHtyzhZ0Tm-JBZ4LHpp5d1mPDjqCiDUAfY4RoeTnguE_Q6jtOo/s1600-h/balzac2.bmp"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 150px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIF5bZC6GTUepwIHschRQMUthj1nPS-ngE4hdhKsBA2oRYwcvmNYg5nNf-FXkE8ftvB8kSzGJSNbtNr8aOet-6SRXoiBHtyzhZ0Tm-JBZ4LHpp5d1mPDjqCiDUAfY4RoeTnguE_Q6jtOo/s200/balzac2.bmp" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356881193947095474" /></a><br /><strong>A marquesa agora com a idade de 30 anos, estava bela, embora de formas delicadas e de uma excessiva fragilidade. O seu maior encanto provinha de uma fisionomia cuja calma revelava uma surpreendente anímica. O seu olhar, cheio de brilho, mas que parecia velado por um pensamento constante, acusava uma vida febril e uma resignação ilimitada. As suas pálpebras, quase sempre pudicamente descidas, raramente se erguiam. Se lançava olhares em torno de si, fazia-o com um movimento triste e dir-se-ia que reservava o fulgor dos seus olhos para ocultar contemplações. Deste modo, todo o homem superior se sentia curiosamente atraído para esta mulher serena e silenciosa. Se, por um lado, o espírito procurava adivinhar os mistérios da perpétua reacção que nela se produzia do presente para o passado, a alma, por outro lado, não estava menos interessada em se iniciar nos segredos de um coração que, de qualquer modo, se sentia orgulhoso dos seus sofrimentos. </strong><br />*<strong>Balzac, Honoré de</strong> <strong>– <em>A Mulher de Trinta Anos</em>. Mem-Martins: Europa-América, s/d, pág. 87.</strong><br /><br /><strong>Recolha de Ricardo Pinto</strong><br /><br /><strong>Nota:</strong><br /><strong>Romancista francês, <strong>Honoré de Balzac</strong> nasceu em Tours a 20 de Maio de 1799 e faleceu em Paris a 18 de Agosto 1850.</strong><br /><br />#############################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhushgmfV9yFaRDxaPOA9TwXLWDdu31MeDugLclzpZVjbPPCT2U4-RhboP3jwxhld02U0ZW_ybYvdKsa_uD-XBslq_W-99_fq6hiSp1hnWZhrVXMa3ZZ84j5MzDV06F76dAI7XUOhDasJ0/s1600-h/Lewis_Carroll.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 167px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhushgmfV9yFaRDxaPOA9TwXLWDdu31MeDugLclzpZVjbPPCT2U4-RhboP3jwxhld02U0ZW_ybYvdKsa_uD-XBslq_W-99_fq6hiSp1hnWZhrVXMa3ZZ84j5MzDV06F76dAI7XUOhDasJ0/s200/Lewis_Carroll.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356881010382823522" /></a><br /><br /><strong>CAPÍTULO V<br /><br />O Conselho da Lagarta</strong><br /><br /> <strong>A Lagarta e Alice ficaram a olhar uma para a outra, durante algum tempo, em silêncio; por fim, a Lagarta tirou o cachimbo da boca e dirigiu-lhe a palavra, com voz arrastada e sonolenta.<br /> - Quem és tu? – perguntou a Lagarta.<br />Não era um começo de conversa muito animador. Alice respondeu muito cautelosamente:<br /> - Eu… eu agora já nem sei… mas pelo menos sei quem era quando me levantei esta manhã, mas acho que depois disso já mudei muitas vezes.<br /> - Que queres dizer com isso? – exclamou a Lagarta, desabridamente. – Explica-te!<br /> - Acho que não me posso explicar – disse Alice – porque eu não sou eu, estás a perceber?<br /> - Não compreendo – disse a Lagarta.<br /> - Parece-me que não sou capaz de o dizer mais claramente – replicou Alice, com muita delicadeza – porque eu também não entendo muito bem e não sei por onde começar; e ter tido tantos tamanhos diferentes num dia só, é muito confuso.<br /> - Não é nada – disse a Lagarta.<br /> - Bom, talvez ainda o não tivesses descoberto – disse Alice –, mas quando te transformares em crisálida… E um dia isso há-de acontecer, sabes… e a seguir em borboleta, penso que vais sentir-te um bocado esquisita, não achas?<br /> - Nem nada – disse a Lagarta.<br /> - Bom, talvez os teus sentimentos sejam diferentes – disse Alice –; tudo o que sei, é que, para mim, seria muito esquisito.</strong><br />*<strong>Carroll, Lewis</strong> - <strong> <em>Alice no País das Maravilhas</em>. Porto: Público, 2004, pp.39-40</strong><br /><br /><strong>Recolha de Elisabete Fernandes</strong><br /><br /><strong>Nota:</strong><br /><strong>Escritor inglês, <strong>Lewis Carroll</strong> nasceu em Cheshire a 27 de Janeiro de 1832 e faleceu em Guilford a 14 de Janeiro de 1898.</strong><br /><br />###########################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8ItnXxEcZx_0FJlsb1w4gRmzjWr0ubtAPgdpPv8LyXfR8KkTwQKkjM3TjumTUCY8R5KWbS1s6Anl0G1P2b-N75AiO0T1UZvwO-YmibggB-xMl-QhkR3XaFj1hHp6tkPVWG124B7xM26w/s1600-h/DUMAS_PERE.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 186px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8ItnXxEcZx_0FJlsb1w4gRmzjWr0ubtAPgdpPv8LyXfR8KkTwQKkjM3TjumTUCY8R5KWbS1s6Anl0G1P2b-N75AiO0T1UZvwO-YmibggB-xMl-QhkR3XaFj1hHp6tkPVWG124B7xM26w/s200/DUMAS_PERE.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356880822032083282" /></a><br /><br /> <strong>Valentine soltou um grito.<br /> - Estive na casa de Monte Cristo à uma hora, falamos, ele da mágoa que a sua família experimentou, e eu do seu pesar, quando uma carruagem entrou no jardim de entrada. Nunca, até àquele momento, depositei qualquer confiança em pressentimentos, mas agora não posso deixar de acreditar neles, Valentine. Arrepiei-me ao som da carruagem. Cedo ouvi passos nas escadas, que me aterrorizavam tanto quanto os do capitão aterrorizavam D.Juan. A porta abriu-se finalmente, Albert de Morcerf entrou primeiro, e comecei a ter esperança que os meus receios fossem em vão, quando, atrás dele, entrou outro jovem, e o conde exclamou:<br /> «-Ah, aqui está o barão Franz d'Epinay!<br /> «- Chamei a toda a minha força e coragem para me ajudar. Talvez tenha empalidecido,mas decerto que sorri. E saí cinco minutos depois, sem ouvir uma única palavra que se tinha dito.<br /> -Pobre Maximilian! - Murmurou Valentine.</strong><br /><br /><br /><strong><strong>*Dumas, Alexandre (Pai)</strong> – <em>O Conde de Monte-Cristo</em>. Porto: Público, 2004, p. 224</strong><br /><br /><strong>Recolha de Sílvia Moreira</strong><br /><br /><strong>Nota:</strong><br /><strong>Romancista francês, <strong>Alexandre Dumas (Pai)</strong> nasceu em Villers-Cotterêts a 24 de Julho de 1802 e faleceu em Puys a 5 de Dezembro de 1870. O seu filho, também chamado <strong>Alexandre Dumas</strong> (Paris, 27 de Julho de 1824-Marly-le-Roi, 27 de Novembro de 1895) veio a tornar-se, igualmente, um romancista muito apreciado, tendo escrito obras famosas como "A Dama das Camélias" e "Os Três Mosqueteiros".</strong><br /><br />###################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEih6NLQ8j9bVv8FcQlvigVPA_uCW5CZJelvxmULRAgoh6rey_GJAbKq7q9nHc7OCdKBYOI0OV8TDdOQeBx8kWIehB3wIoOe3mrHwp63dmeStQ40O0CwPd5hVRljf2nr9QEjji2fi3LhTXU/s1600-h/Cervates_jauregui.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 177px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEih6NLQ8j9bVv8FcQlvigVPA_uCW5CZJelvxmULRAgoh6rey_GJAbKq7q9nHc7OCdKBYOI0OV8TDdOQeBx8kWIehB3wIoOe3mrHwp63dmeStQ40O0CwPd5hVRljf2nr9QEjji2fi3LhTXU/s200/Cervates_jauregui.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356880643371498274" /></a><br /><br /><strong>CAPÍTULO I<br /> <br /> <br /><br />Que trata da condição e exercício do famoso fidalgo<br />D. Quixote de la Mancha</strong><br /><br /><br /> <strong>Num lugar da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não<br />há muito, um fidalgo, dos de lança em cabido, adarga antiga, rocim fraco e galgo corredor. <br /> Passadio, olha seu tanto mais de vaca do que de carneiro, as mais das ceias restos de carne picada com sua cebola e vinagre, aos sábados outros sobejos ainda somenos, lentilhas às sextas-feiras, algum pombito de crescença aos domingos, consumiam três quartos do seu haver. O remanescente, levavam-no saio de <em>belarte</em>,calças de veludo para as festas, com seus pantufos do mesmo; e para os dias de semana o seu <em>bellori</em> do mais fino.<br /> Tinha em casa uma ama que passava dos quarenta, uma sobrinha que não chegava aos vinte, e um moço da poisada e da porta a fora, tanto para o trato do rocim, como para o da fazenda. <br /> Orçava na idade o nosso fidalgo pelos cinquenta anos. Era rijo de compleição, seco de carne, enxuto de rosto, madrugador e amigo da caça.</strong><br /><br /><br /><strong>*Cervantes, Miguel de</strong> – <strong><em>D. Quixote de la Mancha</em>. Porto: Público, 2004, p. 15,</strong><br /><br /><strong>Recolha de Manuel Mendes</strong><br /><br /><strong>Nota:</strong><br /><strong>Romancista, poeta e dramaturgo espanhol, <strong>Miguel de Cervantes</strong> nasceu em Alcalá de Henares a 29 de Setembro de 1547 e faleceu em Madrid a 23 de Abril de 1616.</strong><br /><br />############################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0AW5v5CnY6JpKRomuD74TxDPLm4ULtIXixNdTHZu2BHh9ZMJgBEX727WoQ3GeTmX_wPYg05DdnOneSnThtkQ-VJzxmhgBxB8VR79rX2SsZRD2r1qGNYt9zL-W4f95RmpRIbEkH3iAT8I/s1600-h/L_frank_baum.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 139px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0AW5v5CnY6JpKRomuD74TxDPLm4ULtIXixNdTHZu2BHh9ZMJgBEX727WoQ3GeTmX_wPYg05DdnOneSnThtkQ-VJzxmhgBxB8VR79rX2SsZRD2r1qGNYt9zL-W4f95RmpRIbEkH3iAT8I/s200/L_frank_baum.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356880489657231298" /></a><br /><br /><strong>Capítulo 24<br /><br />De novo em casa</strong><br /><br /> <strong>A tia Em acabava de sair de casa para regar as couves, quando levantou os olhos e viu Dorothy correr na sua direcção.<br /> - Minha querida menina! – gritou, envolvendo-a nos seus braços e cobrindo-lhe o rosto de beijos. – Mas donde é que vens? <br /> - Da Terra de Oz – disse Dorothy solenemente. – E aqui está o Totó, também. E oh, tia Em! Estou tão feliz por estar de novo em casa! </strong><strong>*Baum, Frank</strong> – <strong><em>O Feiticeiro de Oz</em>. Porto: Público, 2004, p. 157</strong><br /><br /><strong>Recolha de Arnaldina Moreira</strong><br /><br /><strong>Nota: </strong><br /><strong>Escritor norte-americano, <strong>Frank Baum</strong> nasceu em Nova Iorque a 15 de Maio de 1856 e faleceu em Hollywood a 6 de Maio de 1919.</strong><br /><br />###################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHdzeSlNShJfFuveNTUtVkk-iR-NjaNYcqtY9XCK4o6xYCDCJZjCsu6KnvfWMKT6WWTSL2n9k6ZB9qHNmwy03xinBQnnQDF7FhEugIfM70o8xGXXh8QE8jIuGczoFEdVt5hD0SW_kcCFU/s1600-h/Herman_Melville_1860.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 156px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHdzeSlNShJfFuveNTUtVkk-iR-NjaNYcqtY9XCK4o6xYCDCJZjCsu6KnvfWMKT6WWTSL2n9k6ZB9qHNmwy03xinBQnnQDF7FhEugIfM70o8xGXXh8QE8jIuGczoFEdVt5hD0SW_kcCFU/s200/Herman_Melville_1860.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356880259142951570" /></a> <br /><br /><strong>Capítulo I </strong><br /><br /><strong>Miragens</strong><br /> <br /> <strong>Chamem-me Ismael. Há alguns anos, quantos ao certo, não importa, com pouco ou nenhum dinheiro, na bolsa, e sem nada de especial que me interessasse em terra, veio-me à ideia meter-me num navio e ver a parte aquática do mundo. É uma maneira que eu tenho de afugentar a melancolia e regularizar a circulação. Sempre que na minha boca se desenha um esgar carrancudo; sempre que me vai na alma um Novembro húmido e cinzento, sempre que dou comigo a deter-me involuntariamente em frente das agências funerárias ou a engrossar o séquito de todos os funerais com que me deparo; e, especialmente, sempre que me sinto invadido por um estado de espírito de tal maneira mórbido, que só os sólidos princípios morais me impedem de descer à rua com a ideia deliberada de arrancar metodicamente os chapéus a todos os transeuntes, nessa altura, dou--me conta que está na hora de me fazer ao mar, quanto antes. É o meu estratagema para evitar o suicídio. Catão lança-se sobre a espada com um floreado filosófico; eu, calmamente, embarco. Nada há de surpreendente nisto. Embora não se dêem conta, tal como eu, quase todos os homens acalentam, mais tarde ou mais cedo, este desejo de mar.</strong><br /><strong>*Melville, Herman</strong> – <em>Moby Dick</em>. Porto: Público, 2004, p.5,<br /><br /><strong>Recolha de Olga Pereira</strong><br /><br /><strong>Nota:</strong><br />Escritor, poeta e ensaísta norte-americano, <strong>Herman Mellville</strong> nasceu em Nova Iorque a 1 de Agosto de 1819 e faleceu na mesma cidade a 28 de Stembro de 1891.<br /><br />############################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFwRq8oEd2PFkVX5t3QI6my3BvwuErJ3AUsPxJUJoV-NhHcs6EnxtNM4-6Bqsj3UtN52ihUDMe-SWODw74Kmfl3IzkkX11DMwmzlAwBNSNlltqli1eWjq0AMJLMBHr4s8FiVZl8efULew/s1600-h/Victor_Hugo2.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 151px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFwRq8oEd2PFkVX5t3QI6my3BvwuErJ3AUsPxJUJoV-NhHcs6EnxtNM4-6Bqsj3UtN52ihUDMe-SWODw74Kmfl3IzkkX11DMwmzlAwBNSNlltqli1eWjq0AMJLMBHr4s8FiVZl8efULew/s200/Victor_Hugo2.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356880083382105186" /></a><br /><br /><strong>V<br /><br />A MÃE</strong><br /><br /> <strong>Não julgo que haja no mundo nada mais risonho do que as ideias que acordam, no coração de uma mãe, a vista do sapatinho de seu filho; sobretudo se é sapato de festa, dos domingos, do baptismo, o sapato bordado até quase na sola, um sapato com o qual a criancinha ainda nem deu nem um passo. Esse sapato tem uma graça e pequenez, é-lhe tão impossível andar, que para a mãe é o mesmo que ver o filho. Sorri-lhe, beija-o, fala-lhe: a si se pergunta se pode efectivamente haver um pé tão pequenino; e, a criança embora ausente, basta-lhe o lindo sapato para lhe pôr sob os olhos a doce e frágil criatura. Julga vê-la, vê-a inteira, viva, alegre, com as mãos delicadas, a cabeça redonda, os lábios puros, os olhos serenos onde o branco é azul. Se é de Inverno ela lá está, arrasta-se sobre o tapete, escala laboriosamente um tamborete e a mão treme que ela não aproxime o fogo. Se é de Verão, arrasta-se pelo pátio, pelo jardim, arranca a erva entre as pedras, olha ingenuamente para os grandes cães, os grandes cavalos, sem medo, brinca com as camélias, com as flores, e faz ralhar o jardineiro que encontra a areia nos canteiros e a terra nas ruas. Tudo ri, tudo brilha, tudo folga à roda dela, como ela, até ao sopro do ar e ao raio do sol que se divertem à porfia nos travessos anéis dos seus cabelos. O sapato tudo isto mostra à mãe e faz-lhe fundir o coração como o fogo a cera. <br /> Mas, quando se perdeu o filho essas mil imagens de alegria, de encanto, de ternura, que se estreiam à volta do sapatinho, tornam-se outras tantas coisas horríveis. O lindo sapato bordado não é mais do que um instrumento de tortura que esmaga eternamente o coração da mãe. E sempre na mesma fibra a vibrar, a fibra mais profunda e mais sensível, mas em vez dum anjo que a acaricia é um demónio que a belisca. </strong><br /><strong>*Hugo, Victor</strong> – <strong><em>Nossa Senhora de Paris</em>. Porto: Público, 2004, pp. 216, 217.</strong><br /><strong>Recolha de Isaura Pereira</strong><br /><br /><strong>Nota:</strong><br />Escritor e poeta francês, <strong>Victor Hugo</strong> nasceu em Besançon a 26 de Fevereiro de 1802 e faleceu em Paris, 22 de maio de 1885.<br /><br />#########################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiW3RB1e7YKQYThxvSEnzMQkWtYDrmsInwwekd1aISixzXDghDEmCtqqEYGtx5bLqsCyGRJ9wLREZ6p7pnRQc_nCtkwJe93-CB74FgDdXLG0lpBem1f4yPqfjlxV96IoABYv4kWCvS55wQ/s1600-h/oscar+wilde.bmp"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 142px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiW3RB1e7YKQYThxvSEnzMQkWtYDrmsInwwekd1aISixzXDghDEmCtqqEYGtx5bLqsCyGRJ9wLREZ6p7pnRQc_nCtkwJe93-CB74FgDdXLG0lpBem1f4yPqfjlxV96IoABYv4kWCvS55wQ/s200/oscar+wilde.bmp" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356879849689640610" /></a><br /><br /> <strong>- Já leu alguma vez a velha profecia da janela da Biblioteca?<br /> - Sim, muitas vezes – gritou a menina a olhar para cima. – Conheço perfeitamente. Está pintado com umas curiosas letras negras e quase ilegível. Só tem seis versos:<br /><br /> <br />Quando uma menina de ouro vencer<br /> O pecado dos lábios que o proferem <br /> Quando a velha amendoeira florir<br /> E uma menina, com as lágrimas, a regar<br /> Toda a casa ficará na paz<br /> Há tanto esperada pelos Canterville<br /><br /> Mas não sei o que querem dizer.</strong><br /><br /><strong>*Wilde, Oscar</strong> –<strong> <em>O Fantasma de Canterville</em>. Porto: Público, 2004, p. 27</strong><br /><br /><strong>Recolha de Manuel Silva</strong><br /><br /><strong>Nota:</strong><br /><strong>Escritor irlandês, <strong>Oscar Wilde</strong> nasceu em Dublin a 16 de Outubro de 1854 e faleceu em Paris a 30 de Novembro de 1900.</strong><br /><br />#######################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhysYhPEwMnhLqh5qHvKWHq_uALa5nqVXm8jK0d9bzW9XmPg94jv6qBY-WXoRxgnbiCBv34FPeuJrFUl1YCq95O2Ho5mQ_scVecNYNxEW3z6X1G-oMgTGhF41YZlxMJGi79jP3njgVj4E0/s1600-h/FLIX_N~1.JPG"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 143px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhysYhPEwMnhLqh5qHvKWHq_uALa5nqVXm8jK0d9bzW9XmPg94jv6qBY-WXoRxgnbiCBv34FPeuJrFUl1YCq95O2Ho5mQ_scVecNYNxEW3z6X1G-oMgTGhF41YZlxMJGi79jP3njgVj4E0/s200/FLIX_N~1.JPG" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356879464427116722" /></a><br /><br /><strong>Capítulo XI<br /><br />PHILEAS FOGG ARRANJA UM MEIO DE TRANPORTE CURIOSO A UM PREÇO INACREDITÁVEL</strong><br /><br /> <strong>O comboio saiu pontualmente da estação. Entre os passageiros encontravam-se diversos militares, funcionários do estado e traficantes de ópio e índigo, cujo negócio os havia atraído para a costa oriental.<br />Passepartout viajava na mesma carruagem do seu amo e um outro passageiro ocupava o lugar em frente. <br />Era Sir Francis Cromarty, um dos parceiros de <em>whist</em> do Sr. Fogg no Mongólia, que ia juntar-se ao seu destacamento em Bernares.<br />Sir Francis Cromarty era francês e era um homem alto e elegante na sua casa dos cinquenta anos, que se tinha distinguido na última revolta de Sepoy. Ele fez da Índia o seu lar, fazendo apenas curtas visitas a Inglaterra muito espaçadamente. Estava tão familiarizado com os costumes, história e carácter da Índia e do seu povo quanto os próprios indígenas. O Sr.Fogg que considerava não estar propriamente em viagem de lazer, mas sim cumprindo um itinerário, não mostrou qualquer interesse em questioná-lo acerca destes assuntos. </strong><br /><br /><strong>*Verne, Júlio</strong> – <strong><em>A Volta ao Mundo em 80 dias</em>. Porto: Público, 2004, p. 65</strong><br /><br /><strong>Recolha de João Fernandes</strong><br /><br /><strong>Nota:</strong><br /><strong>Escritor francês, <strong>Jules Verne</strong> (aportuguesado para <strong>Júlio Verne</strong>) nasceu em Nantes a 8 de Fevereiro de 1828 e faleceu em Amiens, 24 de Março de 1905.</strong><br /><br /><br />########################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrS2SrcBrV_rw7JSQpEVBt8Lyfq8E-GPblyvBhI2itNBZlCngi24QpSiqFCZAYXcu2SrJh14BbAIfgUZiqOm7PgA6wefXfGxjZafq-vTXPNbXK1MhebOJRhb9IJKryMJM14Yxz8JPffxk/s1600-h/Sir_Walter_Scott_-_Raeburn.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 167px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrS2SrcBrV_rw7JSQpEVBt8Lyfq8E-GPblyvBhI2itNBZlCngi24QpSiqFCZAYXcu2SrJh14BbAIfgUZiqOm7PgA6wefXfGxjZafq-vTXPNbXK1MhebOJRhb9IJKryMJM14Yxz8JPffxk/s200/Sir_Walter_Scott_-_Raeburn.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356879180308859090" /></a><br /><br /><strong>Capítulo I</strong><br /><br /> <strong>Naquele belo condado da ridente Inglaterra, banhado pelo Don, estendia-se outrora uma imensa floresta. Esta cobria a maior parte das montanhas e dos vales que se encontravam entre Sheffield e a encantadora cidade de Doncaster.<br />Aí se travaram algumas das mais sangrentas batalhas da Guerra das Duas Rosas; aí ainda se acoitaram esses bandos de foragidos, esses <em>outlaws</em> de quem as velhas canções inglesas popularizaram as proezas. Tal é o lugar onde se passa a nossa história, durante os últimos anos do reinado de Ricardo I, na hora em que o regresso do príncipe era desesperadamente desejado pelos seus súbditos oprimidos por todos os males que uma tirania pode conceber.<br />Depois da conquista da Inglaterra por Guilherme, quatro gerações não haviam sido suficientes para misturar o sangue dos vencedores com o dos vencidos, nem para fundir pela identidade da língua e dos interesses duas raças inimigas, das quais uma conservara todo o orgulho do triunfo, e a outra sofria gemendo a humilhação. A derrota de Hastings havia posto todo o poder nas mãos da nobreza normanda, e esta não o tinha usado com moderação. Salvo um muito pequeno número de excepções, a raça dos príncipes e dos nobres saxões tinha sido aniquilada ou espoliada, e bem raros eram os que, na terra de seus pais, possuíam ainda alguns magros domínios. </strong> <br /><br /><strong>*Scott, Walter</strong> – <strong><em>Ivanhoe</em>. Lisboa: Ed. Verbo, 1985, p.5</strong> <br /><br /><strong>Recolha de Sidónio Augusto Vieira</strong><br /><br /><strong>Nota:</strong><br /><strong>Romancista escocês, <strong>Sir Walter Scott</strong> nasceu em Edimburgo a 15 de Agosto de 1771 e aí faleceu a 21 de Setembro de 1832.</strong><br /> <br />##########################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhS2SUtMJqhyphenhyphenok2gl6-kIRF8XwqWzdrtwUAFtVXI8MRLstBO_NuuaO2B6MhSHmV4s9z3dVpq3v652AZ78BmIb1Y9Gx3_iYs0CcTITxVscwpZBlOc8tKyE6dRzZ495j-8JtmDBgRvyvsZjA/s1600-h/Homere.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 150px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhS2SUtMJqhyphenhyphenok2gl6-kIRF8XwqWzdrtwUAFtVXI8MRLstBO_NuuaO2B6MhSHmV4s9z3dVpq3v652AZ78BmIb1Y9Gx3_iYs0CcTITxVscwpZBlOc8tKyE6dRzZ495j-8JtmDBgRvyvsZjA/s200/Homere.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356878961133509202" /></a><br /> <strong>Naquele tempo, todos os que conseguiram escapar a uma morte cruel tinham já regressado à pátria, salvos dos perigos da guerra e do mar. Ulisses, o único que suspirava pelo regresso e pela esposa, estava preso numa gruta profunda pela ninfa Calipso, divina deusa que o desejava para seu marido. Mas, com o rodar dos anos, chegou a altura decretada pelos deuses para que ele voltasse a Ítaca, sua pátria; nem por isso, no entanto, cessaram os seus trabalhos. Todos os deuses se compadeciam dele, excepto Poseídon, que o perseguiu até ao fim das suas aventuras.<br />Mas o deus tinha ido à afastada região dos etíopes, para assistir a um sacrifício de toiros e ovelhas que lhe estava reservado. Enquanto se deliciava no festim, reuniram-se os restantes deuses no palácio de Zeus Olímpico. </strong> <br /><br /><strong>*Homero</strong> – <strong><em>Odisseia</em>.Porto: ABLivro Edições, 1978, p. 13</strong> <br /><br /><strong>Recolha de Luís Pereira<br /><br /><strong>Nota:</strong><br /><strong>Poeta grego, sabe-se muito pouco da sua existência e pensa-se que <strong>Homero</strong> viveu no século VIII a. C..</strong><br /><br />###############################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8HQTlTZu74x6o_2CX3nkIfTHKoOZDjSCkkYJcalcZMmQQ7BlaNzlkIuS4Jj7XVUttR9-kRL-iSxtIyR2gIv4jj8nwMDRLlqAut3Y9mz_ICjM-Pzbp-1cbW6E-oQ86z10iCRJAp0htPOE/s1600-h/Marguerite+Yourcenar.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 149px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8HQTlTZu74x6o_2CX3nkIfTHKoOZDjSCkkYJcalcZMmQQ7BlaNzlkIuS4Jj7XVUttR9-kRL-iSxtIyR2gIv4jj8nwMDRLlqAut3Y9mz_ICjM-Pzbp-1cbW6E-oQ86z10iCRJAp0htPOE/s200/Marguerite+Yourcenar.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5357224913808925554" /></a><br />O velho pintor Wang-Fô e o seu discípulo Ling andavam pelas estradas do reino dos Han. O reino doa Han: era o nome por que naquele tempo era conhecida a Grande China.<br />Ninguém pintava melhor que Wang-Fô as montanhas a sair do nevoeiro, os lagos sobrevoados pelas libelinhas, e as enormes vagas do Pacífico vistas a partir da costa. Dizia-se que as suas imagens santas atendiam imediatamente qualquer prece; sempre que ele pintava um cavalo, tinha que o mostrar preso a uma estaca ou seguro pelas rédeas, pois se assim não fosse o cavalo escapava-se do quadro, a galope, e nunca mais ninguém lhe punha a vista em cima. Os ladrões não se atreviam a entrar em casa de quem possuísse um cão-de-guarda pintado por Wang-Fô.<br />Wang-Fô poderia ter sido rico, mas gostava mais de dar que de vender. Distribuía as pinturas que fazia por quem as apreciasse verdadeiramente, ou então trocava-as por uma tigela de comida. O seu carinho ia todo para os pincéis, para os rolos de seda ou de papel de arroz, e para ao pauzinhos de tinta de diversas cores que ele friccionava contra uma pedra para misturar o pó numa pequena porção de água.<br /><br />*<strong>Yourcenar, Marguerite</strong> – <strong><em> A Fuga de Wang-Fô</em>. Lisboa: Contexto & Imagem, 1998, p.3</strong><br /><strong>Recolha de Jorge Silva</strong><br /><br /><strong>Nota:</strong><br /><strong>Escritora belga, <strong>Marguerite Yourcenar</strong> nasceu em Bruxelas a 8 de Junho de 1903 e faleceu em Mount Desert Island (Maine) Estados Unidos da América a 17 de Dezembro de 1987. Foi a primeira mulher eleita para a Academia Francesa de Letras(1980). </strong><br /><br />###################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2gt0ydjVGUDRVQ2zbpkFmd4q8jxQtsSvl2ttoyIb0CQbRWgPcFIVzJWz5muPD3AKJAdNqXqpMYip0IJa2Me7QCZUYwEJcIfqXosSgc7lSt5fb40oOc1dvP-R_UrmasLt7NlAIiXRvFuI/s1600-h/robert-louis-stevenson.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 179px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2gt0ydjVGUDRVQ2zbpkFmd4q8jxQtsSvl2ttoyIb0CQbRWgPcFIVzJWz5muPD3AKJAdNqXqpMYip0IJa2Me7QCZUYwEJcIfqXosSgc7lSt5fb40oOc1dvP-R_UrmasLt7NlAIiXRvFuI/s200/robert-louis-stevenson.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5357590789804644738" /></a><br /><strong><em>X<br />NO ALTO MAR</em><br /><br />Durante toda a noite reinou uma grande agitação a bordo: fizeram-se os últimos embarques, e alguns amigos do conde, o senhor Blandly e outros, vieram desejar-lhe boa viagem e que re¬gressasse em breve. Nunca tínhamos tido tanto trabalho na Estalagem do Almirante Benbow e eu estava completamente morto de fadiga quando, pouco antes da madrugada, o contramestre fez soar o seu apito e os homens se agarraram às malaguetas do ca¬brestante. Ainda que eu sentisse o dobro do cansaço, não sairia da ponte nem por todo o ouro do mundo: era tudo para mim tão novo e tão apaixonante! As ordens curtas, o som vibrante do apito, os marinheiros a correrem para os seus postos à luz das lanternas de bordo.<br />- Eh, Barbecue, canta lá uma das tuas canções! - gritou uma voz. <br />- Anda! A tua lengalenga do costume! - disse outro. <br />- Está bem, está bem, camaradas! - respondeu Long John, que estava perto, encostado à muleta.<br />E começou a cantar imediatamente os versos que eu conhecia tão bem:<br />- Quinze homens sobre o baú do morto...<br />E toda a tripulação continuou em coro:<br />- Ió-hó-hó, e uma garrafa de aguardente!<br />Ao terceiro «hó», empurraram as malaguetas com energia.<br />Mesmo no meio da excitação daquele momento, julguei-me transportado à velha Estalagem do Almirante Benbow, e pareceu-me ouvir a voz do capitão misturada com o coro. Mas já levantavam a âncora, já a penduravam nos seus turcos, a escorrer água, e já eram desfraldadas as velas e a terra e os outros barcos fugiam, a ambos os lados do navio; e antes de eu ter tempo de me deitar no meu beliche para recuperar uma hora de sono, o Hispaniola navegava para a Ilha do Tesouro.<br /><br />* Stevenson, Robert-Louis – <em>A Ilha do Tesouro</em>. Lisboa: Verbo,1990, pp.58-59.<br /><br /><strong>Recolha de José Augusto Gaspar</strong><br /><br />Nota:<br />Novelista, poeta e escritor escocês, Robert-Louis Stevenson nasceu em Edimburgo a 13 de Setembro de 1859 e faleceu em Apia (Samoa) a 3 de Dezembro de 1894.</strong><br /><br />#####################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi86I-FRBseKjjo0eYj92Y03ry_daLYlYqG5VyG5RKY2BSARH5-2NlSagAPKLSSNlGz5kXGFxJjr7ZL96NqDms-fegNFdAoIm8IxuJAHxu3O1P9pSRZyFIDAWAmrYyk8PJyTgMhYHyVoNY/s1600-h/andersen.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 128px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi86I-FRBseKjjo0eYj92Y03ry_daLYlYqG5VyG5RKY2BSARH5-2NlSagAPKLSSNlGz5kXGFxJjr7ZL96NqDms-fegNFdAoIm8IxuJAHxu3O1P9pSRZyFIDAWAmrYyk8PJyTgMhYHyVoNY/s200/andersen.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5357225402829618690" /></a><br /><strong>A Pequena Sereia</strong><br /><br /> Há<strong> muitos anos, quando no fundo do mar havia maravilhosos palácios de mármore e coral, habitados por sereias, existiu uma, a mais formosa de todas.<br /> Era a mais nova das seis princesas-sereia que viviam num palácio encantado no fundo das águas. Tinha a pele acetinada como pétalas de rosa e os olhos tão azuis como as águas do mar, mas não se achava bonita.<br /> -Mamã –perguntou um dia a pequena sereia à sua mãe -, quando podemos ir à superfície para ver as coisas maravilhosas que há na terra?<br /> -Quando tiveres quinze anos –respondeu-lhe a mãe. –Nessa altura poderás sentar-te nas rochas, à luz da lua, e admirar os barcos que cruzam os oceanos.<br /> No entanto, a jovem, que não podia conter a sua impaciência, nadou até à superfície sem que ninguém a visse.<br /> O mar estava bastante agitado e a pequena sereia, muito espantada, viu um barco a estilhaçar-se contra os recifes. E ouviu a voz de um jovem que pedia socorro.<br /> A pequena nadou na sua direcção e segurou-o pelos cabelos, antes que se afundasse.<br /> -Desmaiou –pensou ela. –Vou mantê-lo a flutuar e levá-lo para a praia.<br /> Quando o Sol nasceu, os homens e as mulheres da cidade encontraram o jovem na praia. A sereia, escondida atrás de umas rochas, observou as manifestações de alegria da multidão.<br /> -O nosso príncipe salvou-se! –gritaram.<br /> A pequena sereia viu também que o príncipe sorria para os que o aclamavam e, muito satisfeito, entrou com eles num grande palácio branco.<br /> A pequena sereia, um pouco triste por não ter recebido os agradecimentos do seu protegido, voltou ao fundo do mar e não mais conseguiu sorrir desde então.<br /> -Mas o que é que viste na superfície? –perguntavam as irmãs, curiosas.<br /> Porém, ela não lhes respondia. Sempre tinha sido silenciosa e pensativa, mas a partir de então foi-o ainda mais. Procurava distrair-se cuidando das belíssimas flores do seu jardim submarino, mas ficava ainda mais triste ao recordar as maravilhosas flores da terra, a cor do céu e a carícia da brisa.<br /> Subiu muitas mais vezes à superfície, nas noites de luar, mas nunca mais voltou a ver o príncipe.<br /> Um dia, sem poder mais suportar a sua dor, contou às irmãs o que tinha acontecido.<br /> -Se pudesse caminhar sobre a terra –disse-lhes -, iria buscar o príncipe e nunca mais me separava dele.<br /> -Talvez consigas alcançar o que deseljas –disse um polvo que tinha estado a ouvir a conversa –se fizeres uma visita à bruxa que vive na gruta das escarpas.<br /> A sereiazinha foi até à tal gruta e encontrou a bruxa. Esta perguntou-lhe com voz desafinada:<br /> -Que queres de mim?<br /> -Queria ter duas pernas como as princesas da terra.<br /> -Apaixonaste-te pelo príncipe, não foi?<br /> -Pois foi –respondeu a sereiazinha com voz trémula.<br /> -Vou ajudar-te –prometeu a bruxa. –Vou fazer com que a tua cauda de peixe se transforme em duas robustas pernas, mas tu terás de me dar alguma coisa em troca.<br /> -Dou-te o que tu quiseres –disse a pequena sereia -, todo o ouro do mar, colares de pérolas e de coral...<br /> -Bah! –interrompeu a bruxa. –Nada disso me interessa. O que eu quero é a tua voz.<br /> -Mas se ficar sem voz –retorquiu a pequena sereia -, como poderei falar com o príncipe?<br /> -Nos teus olhos lerá o que sentes, sem necessidade de palavras.<br /> -Está bem –resignou-se a sereiazinha. –Dou-te a minha voz em troca de duas pernas que me permitam ir até onde está o príncipe.<br /> -Bebe esta poção –disse a bruxa com a voz doce que lhe tinha dado a sereia -, e verás os teus desejos realizados.<br /> A princesa-sereia bebeu a poção da bruxa e a sua cauda de peixe desapareceu para dar lugar a um par de esbeltas pernas. Depois de caminhar por florestas e montanhas, chegou à cidade. Havia uma grande festa no palácio do príncipe.<br /> -Não te vão deixar entrar, rapariga –disse-lhe um coelhinho curioso que estava à porta.<br /> “E porque não?”, pensou a sereiazinha. “Estou tão bem vestida como essas damas que estão a dançar no salão.”<br /> E tal como pensava, as sentinelas, ao verem-na tão bonita e elegante, afastaram-se para a deixarem entrar.<br /> O príncipe quis logo dançar com aquela jovem tão bela e elegante. A sereia concordou, emocionada, com um lindo sorriso.<br /> -Como te chamas? –perguntou-lhe o príncipe.<br /> No entanto, a sereiazinha, como tinha ficado muda, não pôde responder.<br /> -És muda? –voltou ele a perguntar.<br /> A sereia, a chorar, acenou que sim com a cabeça.<br /> -Vem –disse-lhe o príncipe depois da dança -, quero que conheças a minha noiva. É uma princesa muito bonita como tu, e vou casar-me com ela.<br /> A sereia queria muito poder gritar: “Eu também gosto de ti! E salvei-te de morreres afogado!”, mas como não tinha voz, não pôde dizer nada.<br /> Passados alguns dias, o príncipe casou com a bela princesa que tinha vindo de um país longínquo.<br /> A sereia teve de se contentar em ser dama de honor, levando a cauda do branquíssimo vestido de noiva. Os sinos tocavam com um ritmo de festa, mas para ela era um som triste.<br /> Os noivos embarcaram num lindo barco e a sereia foi despedir-se deles à praia. E ali ficou até ao anoitecer.<br /> As suas irmãs, que vieram à superfície, disseram-lhe:<br /> -Não chores mais, irmãzinha. Nós, as sereias, não podemos conquistar o amor de um ser humano. Deves resignar-te.<br /> A bruxa devolveu a cauda de peixe à sereia e as seis irmãs voltaram ao fundo do mar.<br /> Nas noites de luar, a pequena sereia apaixonada regressa à superfície para ver os barcos passar.<br /> Passaram muitos navios, mas o príncipe, a quem salvou a vida e por quem suspira de amor, não vem em nenhum.</strong><br /><strong>Andersen, Hans Christian</strong> <strong>- <em>Os Mais Belos Contos de Andersen</em>. Rio de Mouro: Ed. Girassol, s/d, pp.8-19</strong><br /><br /><strong>Recolha Colectiva<br /><br />Nota:</strong><br /><strong>Poeta e escritor dinamarquês, <strong>Hans Christian Andersen</strong> nasceu em Odense a 2 de Abril de 1805 e faleceu em Copenhaga a 4 de Agosto de 1875.</strong><br /> <br />########################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjg-j33fLN45H8RRr_yhbUDMlewcHDbCeYHKgWbzXcwmFimQIse3WEPIPPZIiH4SN1BgwMq-hwRzK2orM5xk1hOxz3oPyOUchTMPwZnyrM_ZQSRXy1NZswGfRlxI8mYNkZj4JO-1OgxHHY/s1600-h/saramago.bmp"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 195px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjg-j33fLN45H8RRr_yhbUDMlewcHDbCeYHKgWbzXcwmFimQIse3WEPIPPZIiH4SN1BgwMq-hwRzK2orM5xk1hOxz3oPyOUchTMPwZnyrM_ZQSRXy1NZswGfRlxI8mYNkZj4JO-1OgxHHY/s200/saramago.bmp" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5357225726259655490" /></a><br /><strong>Centauro</strong><br /><br /> <strong>Vencido por uma fadiga de séculos e milénios, o cavalo ajoelhou-se. Encontrar posição para dormir que a ambos conviesse era sempre uma operação difícil. Em geral, o cavalo deitava-se de lado e o homem repousava também assim. Mas enquanto o cavalo podia ficar uma noite inteira nessa posição, sem se mexer, o homem, para não mortificar o ombro e todo o mesmo lado do tronco, tinha de vencer a resistência do grande corpo inerte e adormecido para o fazer voltar-se para o lado oposto: era sempre um sonho difícil. Quanto a dormir de pé, o cavalo podia, mas o homem não. E quando o esconderijo era demasiado estreito, a mudança tornava-se impossível e a exigência dela ansiedade. Não era um corpo cómodo. O homem nunca podia deitar-se de bruços sobre a terra, cruzar os braços sob o queixo e ficar assim a ver as formigas ou os grãos de terra, ou a contemplar a brancura de um caule tenro saindo do negro húmus. E sempre para ver o céu tivera de torcer o pescoço, salvo quando o cavalo se empinava nas patas traseiras, e o rosto do homem, no alto, podia inclinar-se um pouco mais para trás: então, sim, via melhor a grande campânula nocturna das estrelas, o prado horizontal e tumultuoso das nuvens, ou o sino azul e o sol, como o último vestígio da forja original. <br /> O cavalo adormeceu logo. Com as patas metidas entre as espadanas, as crinas da cauda espalhadas pelo chão, respirava profundamente, num ritmo certo. O homem, meio reclinado, com o ombro direito fincado na parede da vala, arrancou alguns ramos baixos e cobriu-se com eles. Em movimento suportava bem o frio e o calor, ainda que não tão bem como o cavalo. Mas quando quieto e adormecido arrefecia rapidamente. Agora, pelo menos enquanto o sol não aquecesse a atmosfera, iria sentir-se bem sob o conforto das folhagens. Na posição em que estava, podia ver que as árvores não se fechavam completamente em cima: uma faixa irregular, já matinal e azul, prolongava-se para diante e, de vez em quando, atravessando-a de uma banda para a outra, ou seguindo-a na mesma direcção por instantes, voavam velozmente os pássaros. Os olhos do homem cerraram-se devagar. O cheiro da seiva dos ramos arrancados entontecia-o um pouco, puxou para cima do rosto um ramo mais farto de folhas e adormeceu. Nunca sonhava como um homem. Também nunca sonhava como sonharia um cavalo. Nas horas em que estavam acordados, as ocasiões de paz ou simples conciliação não eram muitas. Mas o sonho de um e o sonho do outro faziam o sonho do centauro.</strong><br /><strong>Saramago, José</strong> - <em>Objecto Quase</em>. Lisboa: Ed. Caminho,1999, pp.120-121 (texto adaptado)<br /><br /><strong>Recolha Colectiva</strong><br /><br /><strong>Nota:</strong><br />Escritor, roteirista, jornalista, dramaturgo e poeta português, <strong>José Saramago </strong><strong>nasceu em Azinhaga (Golegã)a 16 de Novembro de 1922. O único escritor nacional a ser galardoado com o Prémio Nobel da Literatura.</strong> <br /><br />#########################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzlC3v7aaqSjBgUhLRB7PTJoW3YVYpfSYWOxDHCboQTI3h5umgBZk6kS-lmJxKls_SqXfRbhUEECojaH6Ej-ulfgJ-dAYbee3bDr_3BRFLi9M8G8_qQoqvmKop2cNSEdWdMlQU8nmzqX8/s1600-h/hoffmann.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 176px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzlC3v7aaqSjBgUhLRB7PTJoW3YVYpfSYWOxDHCboQTI3h5umgBZk6kS-lmJxKls_SqXfRbhUEECojaH6Ej-ulfgJ-dAYbee3bDr_3BRFLi9M8G8_qQoqvmKop2cNSEdWdMlQU8nmzqX8/s200/hoffmann.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5357226016995335682" /></a><br /> <strong>«De que adianta o vice-reitor Paulmann me ter dado esperanças de poder trabalhar como copista: será que o meu azar do costume, que me persegue para todo o lado, mo vai permitir?» (...)<br /> Neste momento, o estudante Anselmo foi interrompido no seu solilóquio por um estranho roçagar e sacudidelas, que se ouviam vindas de algures, bem perto dele, no relvado, e que começaram a subir pela árvore e pelos ramos do sabugueiro que se estendiam por cima da sua cabeça. Era como se o vento do fim do dia estivesse a abanar as folhas, movendo as suas pequenas asas num movimento caprichoso, para a frente e para trás. Em seguida, ouviu uns sussurros e uns ceceios, e parecia que os rebentos em botão soavam como pequenos sinos de cristal. Anselmo ouviu e ouviu. Sem compreender como, não tardou que os murmúrios, os ceceios e os tilintares se fossem aos poucos transformando em palavras débeis e entrecortadas:<br /> -No meio disto, no meio daquilo; no meio dos ramos, no meio dos rebentos, desabrocha, e vem gritar comigo aqui e ali! Minha irmã, minha irmã! Anda e brilha, para cima e para baixo, por aqui, por ali, vem! Raios de sol amarelos; vento da tardinha a soprar; gotas de orvalho a tagarelar; rebentos a cantar; cantemos com os ramos e os rebentos! Em breve as estrelas vão brilhar; vem comigo. No meio disto, no meio daquilo, anda rebento, vem rebento, anda girar, vem brilhar, vem, minha irmã!<br /> E assim continuou, por algum tempo, o seu confuso e estranho discurso. O estudante Anselmo pensou:<br /> «Bom, não passa do vento da tarde, que hoje pelos vistos está a murmurar de forma compreensível.» Mas, nesse preciso instante, soou por cima da sua cabeça, de facto, uma harmonia tripla perfeita de sinos de cristal. Olhou para cima e viu três pequenas serpentes a brilhar, verdes e douradas, enroladas em torno dos ramos e a esticarem as suas cabeças na direcção do sol-poente. De novo se ouviu o murmúrio e o ciciar das mesmas palavras que antes ouvira, e as pequenas serpentes deslizavam, acariciando, para cima e para baixo, os ramos; e enquanto se moviam rapidamente, era como se o sabugueiro espalhasse milhares de brilhantes esmeraldas através das escuras folhas. <br /> «É o sol do fim do dia a brincar com o sabugueiro», pensou o estudante Anselmo. Mas lá estava de novo o som dos sinos. E Anselmo viu que uma das serpentes erguera a cabeça na sua direcção. Uma sensação semelhante a um choque eléctrico atravessou-lhe os membros. Tremeu no seu âmago. Continuava a olhar para cima, e um par de maravilhosos olhos azul-escuros olhavam para ele com um desejo enorme, e uma estranha sensação de euforia abençoada e de profunda tristeza quase lhe esmagou o coração. Enquanto olhava e continuava a olhar, cheio de desejo quente, para aqueles bondosos olhos, os sinos de cristal soaram ainda mais forte numa harmonia perfeita. E as brilhantes esmeraldas caíram e envolveram-no, brilhando em seu redor como faíscas brilhantes e ostentando resplandecentes fios de ouro. O sabugueiro moveu-se e falou:<br /> -Tu sentas-te à minha sombra. O meu perfume envolve-te, mas não o conseguiste compreender. O perfume é a minha fala, quando o amor a incendeia.<br /> O vento de fim de tarde passou deslizando e disse:<br /> -Eu brinquei em redor das tuas têmporas, mas tu não me compreendeste. Este sopro é a minha fala, quando o amor a incendeia.<br /> O raio de sol atravessou as nuvens e o esplendor do seu brilho queimou, como se falasse:<br /> -Eu inundei-te com o meu brilho dourado, mas tu não me compreendeste. Esse brilho é a minha fala, quando o amor a incendeia.<br /> E cada vez mais se foi deixando afundar no brilho daqueles maravilhosos olhos, a sua ânsia e o seu desejo a aumentarem. E tudo se ergueu e se moveu em seu redor, como se despertasse para uma vida feliz. As flores e os rebentos libertaram os seus aromas em redor dele, e eram semelhantes ao imponente som de milhares de suaves vozes, e o que cantavam era transportado, qual eco, pelas nuvens da tarde, enquanto esvoaçavam na direcção de terras distantes. Mas exactamente quando o último raio de sol mergulhou por detrás das colinas e o crepúsculo lançou o seu manto sobre toda a cena, ouviu-se uma voz rouca e funda, vinda de uma grande distância:<br /> -Eia!Eia!Que barulheira e chinfrim vem a ser este? Eia! Eia! Quem é que me apanha o raio que fugiu para trás das colinas? Sol que chegue e cantigas que cheguem. Eia! Eia! Pelos arbustos e pela erva, através da erva e dos rios. Eia! Eia! Vem cá aba-a-a-i-x-o, ba-a-ai-x-o!<br /> E a voz sumiu, como murmúrios, sob a trovoada distante, mas os sinos de cristal tocaram em aguda discordância. Tudo ficou mudo e o estudante deixou-se ficar a observar a forma como as três serpentes, a brilhar e a luzir, deslizaram pela relva na direcção do rio Elba e, sobre as ondas onde elas desapareceram, estalou uma chama verde, a qual, a brilhar, obliquamente, desapareceu na direcção da cidade.<br /><br /></strong><strong>Hoffmann, E.T.A.</strong> -<strong> <em>O Pote de Ouro</em>. Mem Martins: Publicações Europa-América, 2002, p.-8-10</strong><br /><br /><br /><strong>Recolha Colectiva</strong><br /><br /><strong>Nota:</strong><br /><strong>Escritor, compositor, caricaturista e pintor alemão, <strong>Ernst Theodor Amadeus Wilhelm Hoffmann</strong> nasceu em Königsberg, 24 de Janeiro de 1776 e faleceu em Berlim a 25 de Junho de 1822.</strong><br />#######################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhb8XEo2gaCLzhIUhKzyaThKFo9nXX5VmP5Ao4jfegSnKkb718qSZ6ygt8NSpF0TbVwEQh9rHzT3vG3usKpgMensmrgkkvUQrc06Uws7JhN3TnYe0G6YFkFEkRPlWZLxWbAP8wz5FACrfE/s1600-h/tolstoi.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 128px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhb8XEo2gaCLzhIUhKzyaThKFo9nXX5VmP5Ao4jfegSnKkb718qSZ6ygt8NSpF0TbVwEQh9rHzT3vG3usKpgMensmrgkkvUQrc06Uws7JhN3TnYe0G6YFkFEkRPlWZLxWbAP8wz5FACrfE/s200/tolstoi.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5356878169662953602" /></a><br /><br />Ainda que apenas trocassem frases banais sobre opiniões comuns, parecia a Kitty que cada uma das suas palavras decidia a sorte de ambos e a sua. E, coisa singular, aquelas frases avulsas sobre o mau francês de Ivan Ivanovitch ou o casamento infeliz da menina Ieletski ganhavam, com efeito, um valor particular cujo alcance eles sentiam, tal como Kitty. Na alma da pobre rapariga, o baile, a assistência, tudo se confundiu numa espécie de bruma. Apenas a força da educação lhe permitiu fazer o seu dever, quer dizer, dançar, conversar e mesmo sorrir. Entretanto, quando se dispunham as cadeiras para a mazurca e alguns pares deixavam os salões pequenos para tomarem parte na dança, um grande acesso de desespero a invadiu. Tendo recusado cinco dançarinos, não tinha já qualquer possibilidade de ser convidada: de mais se conheciam os seus êxitos na sociedade para que se supusesse por um instante que não tinha par. Teria de pretextar uma indisposição e pedir à mãe que saíssem. Não teve força para isso. Sentia-se aniquilada. <br />Refugiada no fundo de um toucador, deixou-se cair numa cadeira. As ondas vaporosas do vestido envolviam-lhe, como numa nuvem, o corpo delgado. Um dos seus braços nus, magro e delicado, caía sem força, submerso nas pregas do vestido cor-de-rosa, o outro braço agitava em pequenos movimentos um leque diante do seu rosto ardente. Mas embora se assemelhasse assim a uma bela borboleta descansando sobre uma folha de erva e prestes a desdobrar as suas asas irisadas, uma horrível angústia a oprimia.<br />«Talvez esteja enganada, imagino o que não é verdade», pensou. Mas teve de recordar-se do que tinha visto.<br />- Kitty, que se passa? Não compreendo nada – disse a condessa Nordston, que se aproximara em passos macios.<br />Os lábios de Kitty estremeceram. Levantou-se precipitadamente. – Kitty, tu não danças a mazurca?<br />- Não, não – respondeu ela, numa voz molhada de lágrimas.<br />- Ele convidou-a diante de mim – disse a condessa, sabendo bem que Kitty compreendia do que se tratava. – Ela objectou: «Não dança, então, com a menina Stcherbatski?»<br />- Pouco me importa! – respondeu Kitty.<br />Só ela podia compreender o horror da sua situação: não tinha sido ela na véspera, porque se julgava amada por um ingrato, recusado a mão de um homem a quem talvez amasse?<br />A condessa Nordston foi procurar Korsunski, com quem devia dançar a mazurca e incitou-o a convidar Kitty em seu lugar: esta abriu, pois, a mazurca sem, afortunadamente, ter de falar: o seu par passava o tempo a organizar figuras. Como Vronski e Ana tinham tomado o lugar quase em frente dela, Kitty observava-os com os seus olhos agudos. Vigiava-os de mais perto ainda quando chegava a sua vez de dançar, e quanto mais os olhava mais considerava a sua infelicidade para sempre consumada. Adivinhou que eles se sentiam absolutamente sós entre a multidão, e nas feições habitualmente impassíveis de Vronski viu passar aquela expressão submissa e receosa, aquela expressão de cão espancado que tanto a impressionara já.<br />Se Ana sorria, ele respondia ao seu sorriso; se ela parecia meditar, ele tornava-se preocupado. Uma força quase sobrenatural atraía os olhares de Kitty para Ana. Na verdade, emanava desta mulher um encanto irresistível: sedutor era o seu vestido na sua simplicidade; sedutores, os belos braços carregados de braceletes; sedutor, o pescoço firme, rodeado de pérolas; sedutores, os caracóis travessos da sua cabeleira um tanto em desordem; sedutores, os gestos das suas mãos finas, os movimentos das suas pernas nervosas; sedutor, o seu belo rosto animado. Mas havia nesta sedução qualquer coisa de terrível e de cruel.<br />Kitty admirava-a ainda mais que antes, ao mesmo tempo que sentia aumentar o seu sofrimento. Sentia-se esmagada e o seu rosto o dizia: ao passar junto dela, numa figura, Vronski não a reconheceu ao princípio, de tal maneira as suas feições estavam alteradas.<br />- Que belo baile! – disse-lhe ele, por descargo de consciência – Sim – respondeu ela.<br /><br />*Tolstoi, Leo – <em>Ana Karenine</em>. Porto: Público, 2004, pp. 81-82<br /><br /><br /><strong>Recolha Colectiva</strong><br /><br /><strong>Nota:</strong><br />Escritor russo, <strong>Leo Tolstoi</strong> (também conhecido por Liev Tolstói,Léon Tolstói, Leão Tolstoi, Leo Tolstoy ou Lev Nikoláievich Tolstói) nasceu em Yasnaia Poliana a 9 de Setembro de 1828 e faleceu em Astapovo a 20 de Novembro de 1910.<br /><br />#######################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicFbY-jtrepieckxaYF0FkJEnFkXTNzbshZTqk6InA0EAM9xI5OF6CfSWB3R5V3h3S9_E7bBjUpeQHSTqunt5mdX104MDJUn_mqKcb15cOAM1i6gB5a6wLmh08Boau3AqewARYv_0j7Z8/s1600-h/esopo3.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 142px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicFbY-jtrepieckxaYF0FkJEnFkXTNzbshZTqk6InA0EAM9xI5OF6CfSWB3R5V3h3S9_E7bBjUpeQHSTqunt5mdX104MDJUn_mqKcb15cOAM1i6gB5a6wLmh08Boau3AqewARYv_0j7Z8/s200/esopo3.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5357227463715497250" /></a><br /><strong>O Pavão e o Grou</strong><br /><br /> <strong>Talvez vocês não saibam, mas os antigos (e principalmente os Gregos) comiam os pavões como nós hoje comemos os frangos. Consideravam-nos um excelente alimento e criavam-nos juntamente com os outros animais de galinheiro.<br /> Um destes pavões (o pavão mais vaidoso desta terra), não contente em abrir a cauda em leque de cinco em cinco minutos, aborrecia os seus companheiros de capoeira com grandes discursos sobre a sua beleza.<br /> -Olhem para mim, observem-me bem –dizia. –Já alguma vez viram uma ave mais bonita do que eu? Vejam que desenho, que tonalidades brilhantes, que...<br /> Ora, o acaso quis que um grou, em viagem para regiões quentes aterrasse sobre o tecto da capoeira para aí descansar um pouco. O esvoaçar das suas asas interrompeu o pavão, que lhe dirigiu um olhar ameaçador e prosseguiu:<br /> -... que delicadeza de tons! Às vezes só consigo sentir pena. No entanto, pensando bem, há ainda quem seja mais feio que vocês. Querem sentir-se melhor? Olhem para aquele passareco lá em cima, com aquele bico desprporcionado e... aquele pescoço inacreditável!<br /> -Isso é para mim, amigo? –perguntou calmamente o grou.<br /> -E para quem mais poderia ser? –respondeu o pavão.<br /> -Bem, se fosse a ti não me inquietaria tanto. Tenho o pescoço comprido, é verdade, é mesmo assim. Quanto a ti, vais ficar com ele mais comprido quando o teu dono to cortar para te meter na panela. Vais ficar tão belo como as galinhas. E enquanto estás para aí a esgravatar e a dizer todos esses disparates, eu parto em direcção ao céu, lá para cima, para o meio das nuvens...<br /> O grou abriu as suas grandes asas, bateu-as três ou quatro vezes e levantou voo, majestoso, a caminho do seu destino, do lado de lá do mar.<br /><br /> <strong>Moral da história:</strong>frequentemente, uma roupa modesta veste uma pessoa de grande valor, enquanto o luxo e a riqueza escondem muitas vezes uma nulidade.</strong><br /><br />*<strong>Esopo</strong> - <strong><em>As mais belas fábulas de Esopo</em>. Porto:Civilização Editora, 1994, pp. 84-85</strong><br /><strong>Recolha Colectiva</strong><br /><br /><strong>Nota:</strong><br /><strong>Fabulista grego do século VI a.C.. pouco se sabe de <strong>Esopo</strong>.</strong><br />###########################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtR2eJ0feXYfB-nCddq02Pu1IrbhvmwojBQ_Vwzv3odU6JSRYNwr8ZqAYogrAa5mialdjrbuu03BNdASj2h8XzFowD9wYPQovSHupLh_a02S_bbsoShULmR9ozj9ka20DJIyKafHCPzxI/s1600-h/shakespeare.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 156px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtR2eJ0feXYfB-nCddq02Pu1IrbhvmwojBQ_Vwzv3odU6JSRYNwr8ZqAYogrAa5mialdjrbuu03BNdASj2h8XzFowD9wYPQovSHupLh_a02S_bbsoShULmR9ozj9ka20DJIyKafHCPzxI/s200/shakespeare.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5357237191197565938" /></a><br /><strong><em>PRÓSPERO</em><br />Olhai, Senhor rei; eis diante vós Próspero, o duque espoliado de Milão; para que mais certeza tenhais de que é um príncipe vivo quem vos fala, eu vos abraço; a vós e aos vossos dou as boas-vindas.<br /><br /><em>ALONSO</em><br />Se és ou não Próspero ou se apenas és algum fantasma encantado para me iludir, como iludido até agora tenho andado – não o sei. O teu pulso bate, como o de um ser de carne e sangue; e desde que olhei para ti, senti confranger-se-me o coração como se a loucura se apoderasse de mim. É extraordinário. Renuncio ao teu ducado e imploro o teu perdão para os meus agravos… Como é porém possível que Próspero esteja vivo e se encontre aqui?<br /><br /><em>PRÓSPERO<br />(A Gonzalo)</em> Antes de mais nada, nobre amigo, consenti que abrace a vossa velhice cuja honra não tem centro nem limites.<br /><br /><em>GONZALO</em><br />Tudo isto é real ou não é? Não posso jurar nem uma coisa nem outra.<br /><br /><em>PRÓSPERO</em><br />As decepções por que passastes nesta ilha não vos deixam ainda acreditar na realidade das coisas. Sede todos bem-vindos, meus amigos. <em>(Aparte a Sebastião e a António)</em> Quanto a vós, meu par de patifes, o que eu devia era fazer recair a cólera de Sua Alteza sobre vós, dando-vos como traidores: não direi nada, porém.<br /><br /><em>SEBASTIÃO</em><br /><em>(Aparte</em>) É o Diabo que está a falar pela boca dele.<br /><br /> <br /><em>PRÓSPERO</em><br />Não. Quanto a vós, detestado senhor, a quem não posso chamar irmão, sem infectar a boca, perdoo-vos o vosso abominável crime… Perdoo a todos; exijo só o meu ducado que sereis, bem o sei, constrangido a restituir-me.</strong><br /><br /><strong><br />Shakespeare, William</strong> – <strong><em>A Tempestade</em>. </strong>Porto: Lello & Irmãos Editores, s/d, pp.122-123</strong><br /><br /><strong>Recolha Colectiva</strong><br /><br /><br /><strong>Nota: </strong><br /><strong>Poeta e dramaturgo inglês, <strong>William Shakespeare</strong> nasceu em Stratford-upon-Avon a 23 de Abril de 1564, onde também veio a falecer a 23 de Abril do ano de 1616. É considerado o maior escritor de Língua Inglesa.</strong><br /><br />###################################<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPN5ZzZldRGFygISotaA5rKr24X1ZN7dgtC3ZicioMMV0yFaYvpMK-1uy3uC8NQkR_RFliq8rUiG7RVY8-kqtbNkJOQ8ewsDvnt8_y8Gidzuzcw7Rcpuo5WnrFjnwAZYxTMCywpALhba0/s1600-h/Alcott.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 158px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPN5ZzZldRGFygISotaA5rKr24X1ZN7dgtC3ZicioMMV0yFaYvpMK-1uy3uC8NQkR_RFliq8rUiG7RVY8-kqtbNkJOQ8ewsDvnt8_y8Gidzuzcw7Rcpuo5WnrFjnwAZYxTMCywpALhba0/s200/Alcott.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5357589977566649346" /></a><br /><strong>As duas irmãs estavam muito bonitas, com os seus vestidos simples: o da Meg, prateado, de um tom entre o cinzento e o castanho, com uma faixa de veludo azulada e gola de renda; o da Jo, castanho, com uma aplicação de linho que lembrava um colarinho gomado de homem. Cada uma calçou uma luva muito bonita de cor clara, levando dobrada na mão a outra que tinha nódoas. Os sapatos de salto alto da Meg estavam-lhe muito apertados e magoavam-lhe os pés. Os dezanove ganchos de cabelo da Jo parecia estarem-lhe pregados na cabeça! Todas foram de opinião que o efeito conseguido era muito fino!<br />- Divirtam-se, minhas queridas...! - desejou-lhes a senhora March. - Não comam demais e venham assim que eu mandar a Hanna buscar-vos. Levam os lencinhos bonitos?<br />- Sim, mãe – riu Jo. - A Meg até pôs água-de-colónia no dela. E, enquanto se afastavam, acrescentou: - Tenho a certeza de que a mãe nos faria a mesma pergunta se fôssemos a fugir de um terramoto!<br />- A mãe tem razão, por que uma verdadeira senhora conhece-se pelo calçado, pelas luvas e pelo lencinho – declarou Meg, que herdara os mesmos gostos. <br />Quando chegaram à festa, sentiram-se um pouco inibidas, porque era raro irem a reuniões. Mas a senhora Gardiner cumprimentou-as amavelmente, entregando-as ao cuidado da filha mais velha. <br />Meg foi logo convidada para dançar, mas Jo, vendo um rapaz ruivo aproximar-se e temendo que ele a convidasse também, escondeu-se atrás de uma cortina. Entretanto, já alguém tinha escolhido aquele refúgio e, de repente, achou-se em frente do neto do senhor Laurence.<br />- Desculpe! Não sabia que estava aqui gente. - E Jo dispunha-se a deixar aquele esconderijo.<br />Mas o rapaz começou a rir e, apesar de um pouco surpreso, disse afavelmente:<br />- Não tem importância. Se quiser, deixe-se ficar.<br />- Não o incomodo?<br />- Absolutamente nada. Vim para aqui porque me sentia um pouco deslocado. Quase não conheço ninguém.<br />- Comigo passa-se o mesmo. Não se vá embora..., a não ser que queira.<br />Jo, sentindo o embaraço que se instalara entre eles, disse, procurando ser educada:<br />- Creio que já tive o prazer de o encontrar. Mora na casa ao lado da nossa, não é verdade?<br />- Sim, somos vizinhos. - E começou a rir, já completamente à vontade.<br /><br />* Alcott, Louisa May – <em>Mulherzinhas</em>. Lisboa: Verbo, 1990, pp.25-26 <br /><br /><br />Nota:<br />Escritora norte-americana, particularmente talentosa na escrita de obras de literatura juvenil, Louisa May Alcott nasceu em Filadélfia a 29 de Novembro de 1832 e faleceu em Boston a 6 de Março de 1888. </strong><br /><br />############################################<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3zh6tZAWPSHANy9KMJo5gQEO-h8ctevfajdGZHGsiSrovPo5wBZgT1uzIXqj__Er65foGOwXZszctlDlw9cnq8tXCIKU40DtrhVRPN8uqCyLuE9U8qXavAmFpXQN4ambKocLWlMjuE20/s1600-h/Jervas-JonathanSwift.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 162px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3zh6tZAWPSHANy9KMJo5gQEO-h8ctevfajdGZHGsiSrovPo5wBZgT1uzIXqj__Er65foGOwXZszctlDlw9cnq8tXCIKU40DtrhVRPN8uqCyLuE9U8qXavAmFpXQN4ambKocLWlMjuE20/s200/Jervas-JonathanSwift.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5357225175449900258" /></a><br /><strong>Naufrágio e Chegada a Lilipucia</strong><br /><br /><strong> O barco bateu num rochedo e naufragou, por fim. Metemo-nos seis num bote e remámos corajosamente umas três léguas para alcançar terra. Não o conseguimos. O cansaço, a fome e as ondas encarregaram-se da triste tarefa de levar os meus companheiros. Eu, remando e depois nadando, a tudo escapei, nem sei como. Não vi ninguém, nem sinal sequer de qualquer habitação. Tudo deserto. Marginando a praia, um campo de verde relva apenas. Cansadíssimo, extenuado, deitei-me na relva macia e adormeci. A noite vinha descendo e eu não tinha energia suficiente para caminhar mais.<br /> Longas horas dormi, sossegadamente. Já o Sol estava alto quando acordei, e a sua claridade intensa quase me ofuscou a vista. Disse de mim para mim: “Vou-me levantar e procurar de comer e sentar-me à sombra da primeira árvore que me apareça.” Era o melhor que podia fazer... Simplesmente, ao tentar erguer-me não o consegui. Estava preso pelos cabelos, que nesse tempo se usavam muito compridos, e o resto do corpo enredado num sem número de cordelinhos delgados, mas fortíssimos, que me tolhiam os movimentos. Pernas e braços, mãos e pés, senti-os fixados ao solo. Retesei os músculos, respirei fundo, quis sacudir aquelas malhas apertadas –e nada! Os cordéis entravam-me na pele e feriam-me. que aflição! Por não me ser possível fazer outra cousa, voltei a estar quieto. Uma espécie de comichão ou prurido, como que provocado pela marcha de formiga ou de mosca, incomodou-me então. De súbito, surgiu a meus olhos espantados uma criaturinha minúscula, um homenzinho da altura aí duns cinco centímetros –imagine-se! –mas bem proporcionado e todo esperto. O uniforme e as armas que ostentava convenceram-me que se tratava de um militar, de um soldado ou, talvez, de um oficial. E mais havia, decerto, à minha volta, pois um ruído confuso de passos e de exclamações me chegava aos ouvidos.</strong><br /> <br /><strong>Swift, Jonathan</strong> -<strong> <em>As viagens de Gulliver</em> <strong>in</strong> Leão, Margarida, Filipe, Helena(org.)- “Antologia de Língua Portuguesa: 6º Ano”. Amadora: Raiz Editora, 1993, pp.71-72. (Texto adaptado)</strong><br /><br /><br /><strong>Recolha Colectiva</strong><br /><br /><strong>Nota:</strong><br /><strong>Escritor irlandês, <strong>Jonathan Swift</strong> nasceu em Dublin a 30 de Novembro de 1667 e faleceu nessa mesma cidade a 19 de Outubro de 1745.</strong><br /><br /><br /><br /><strong>* Obras do acervo da Biblioteca desta escola.</strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-46283573456324472272009-07-05T12:23:00.040+01:002009-07-20T12:24:38.990+01:00Dia de Portugal, de Camões<div><embed src="http://widget-da.slide.com/widgets/slideticker.swf" type="application/x-shockwave-flash" quality="high" scale="noscale" salign="l" wmode="transparent" flashvars="cy=ok&il=1&channel=3314649325769011930&site=widget-da.slide.com" style="width:426px;height:320px" name="flashticker" align="middle"></embed><div style="width:426px;text-align:left;"><a href="http://www.slide.com/pivot?cy=ok&ct=1&at=un&id=3314649325769011930&map=1" target="_blank"><img src="http://widget-da.slide.com/d1/3314649325769011930/ok_t053_v000_s0un_f00/images/xslide12.gif" border="0" ismap="ismap" /></a> <a href="http://www.slide.com/pivot?cy=ok&ct=1&at=un&id=3314649325769011930&map=2" target="_blank"><img src="http://widget-da.slide.com/d2/3314649325769011930/ok_t053_v000_s0un_f00/images/xslide2.gif" border="0" ismap="ismap" /></a></div></div><br /><br />Fotos da Exposição Temática alusiva às <strong>Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas</strong>.<br /><br /><br /><strong>O Mostrengo</strong><br /><br />O mostrengo que está no fim do mar<br />Na noite de breu ergueu-se a voar;<br />A roda da nau voou três vezes,<br />Voou três vezes a chiar,<br />E disse, “Quem é que ousou entrar<br />Nas minhas cavernas que não desvendo,<br />Meus tectos negros do fim do mundo?”<br />E o homem do leme disse, tremendo,<br />“El-Rei D. João Segundo!”<br /><br />“De quem são as velas onde me roço?<br />De quem as quilhas que vejo e ouço?”<br />Disse o mostrengo, e rodou três vezes,<br />Três vezes rodou imundo e grosso,<br />“Quem vem poder o que só eu posso,<br />Que moro onde nunca ninguém me visse<br />E escorro os medos do mar sem fundo?”<br />E o homem do leme tremeu, e disse,<br />“El-Rei D. João Segundo!”<br /><br />Três vezes do leme as mãos ergueu,<br />Três vezes ao leme as reprendeu,<br />E disse no fim de tremer três vezes,<br />“Aqui ao leme sou mais do que eu:<br />Sou um Povo que quer o mar que é teu;<br />E mais que o mostrego, que me a alma teme<br />E roda nas trevas do fim do mundo,<br />Manda a vontade, que me ata ao leme,<br />De El-Rei D. João Segundo!”<br /> <br /><strong>Fernando Pessoa</strong> <br /><br />#######################<br /><br /><strong>NOITE</strong><br /><br />Milhões de barcos perdidos no mar!<br />Perdidos na noite!<br />As velas rasgadas de todos os ventos<br />Os lemes sem tino<br />Vogando ao acaso<br />Roçando no fundo<br />Subindo na vaga<br />Tocando nas rochas!<br />E quantos e quantos naufragando…<br /><br />Quem vem acender faróis na costa do mar bravo?<br />Quem?!<br /><br /><strong>Manuel da Fonseca</strong><br /><br />#######################<br /><br /><strong>E O BOSQUE QUE SE FEZ BARCO</strong><br /><br />Já o meu país foi uma flor de verde pinho.<br />País em terra. (E semeá-lo uma aventura).<br />Depois abriu-se o mar como um caminho.<br />Depois o bosque se fez barco e o barco arado<br />Dessa nova e fatal agricultura:<br />Colher no mar o fruto nunca semeado.<br /><br /><strong>Manuel Alegre</strong><br /><br />#####################<br /><br /><strong>Linda Inês Inês de Manto</strong><br /><br />Teceram-lhe o manto<br />Para ser de morta<br />Assim como o pranto<br />Se tece na roca<br /><br />Assim como o trono<br />E como o espaldar<br />Foi igual o modo<br />De a chorar<br /><br />Só a morte trouxe<br />Todo o veludo<br />No corte da roupa<br />No cinto justo<br /><br />Também como o choro<br />Lhe deram um estrado<br />Um firmal de ouro<br />Um corpo exumado<br /><br />O vestido dado<br />Como a choravam<br />Era de brocado<br />Não era escarlata<br /><br />Também de pranto<br />A vestiam toda<br />Era como um manto<br />Mais fino que roupa.<br /><br /><strong>Fiama Hasse Pais Brandão</strong><br /><br />###################<br /><br /><strong>Fala apócrifa de Camões</strong><br /><br />É inútil buscarem o meu signo<br />procuram-me em ruas ou retratos <br />sequer em grutas gritos manuscritos <br />muito menos em fósseis ou falsas<br /><br />pistas que de meus ossos não existem<br />É inútil julgarem-me comparsa <br />De quem quer que julgue viver comigo<br />Já que em lugar algum terei passado<br /><br />comigo mais que um prazo muito exímio <br />mais ambíguo aliás e mais escasso<br />que o vivido com Bembo ou com Virgílio<br /><br />com Petrarca Ariosto ou Garcilaso<br />Só estes os contei por meus amigos<br />E só de astros que tais rompe o meu rasto<br /><br /><strong>David Mourão-Ferreira</strong><br /><br />#####################<br /><br /><strong>Gruta de Camões</strong><br /><br />Dentro de mim sobe a imagem dessa gruta<br />Cujo silêncio ainda escuta<br />Os teus gestos e os teus passos.<br />Aí, diante do mar como tu transbordante<br /> <br />De confissão e segredo,<br />Choraste a face pura<br />Das brancas amadas<br />Mortas tão cedo<br /> <br /><strong>Sophia Mello Breyner Andresen</strong><br /><br />##########################<br /><br /><strong>Camões dirige-se aos seus contemporâneos</strong><br /><br />Podereis roubar-me tudo: <br />as ideias, as palavras, as imagens, <br />e também as metáforas, os temas, os motivos, <br />os símbolos, e a primazia <br />nas dores sofridas de uma língua nova, <br />no entendimento de outros, na coragem <br />de combater, julgar, de penetrar <br />em recessos de amor para que sois castrados. <br />E podereis depois não me citar, <br />suprimir-me, ignorar-me, aclamar até <br />outros ladrões mais felizes. <br />Não importa nada: que o castigo <br />será terrível. Não só quando <br />vossos netos não souberem já quem sois <br />terão de me saber melhor ainda <br />do que fingis que não sabeis, <br />como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais, <br />reverterá para o meu nome. E mesmo será meu, <br />tido por meu, contado como meu, <br />até mesmo aquele pouco e miserável <br />que, só por vós. sem roubo, haveríeis feito. <br />Nada tereis, mas nada: nem os ossos, <br />que um vosso esqueleto há-de ser buscado, <br />para passar por meu. E para outros ladrões, <br />iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo. <br /><br /><br /><strong>Jorge de Sena </strong><br /><br /><br />###################<br /><br /><strong>CAMÕES NÁUFRAGO</strong><br /><br />Cedendo à fúria de Neptuno irado<br />Soçobra a nau que o grão tesouro encerra;<br />Luta coa morte na espumosa serra<br />O divino cantor do Gama ousado.<br /><br />Ai do Canto mimoso a Lísia dado!...<br />Camões, grande Camões, embalde a terra<br />Teu braço forte, nadador aferra<br />Se o Canto lá ficou no mar salgado.<br /><br />Chorai, Lusos, chorai! Tu morre, ó Gama,<br />Foi-se a tua glória... Não; lá vai rompendo<br />Coa dextra o mar a lusa fama.<br /><br /><strong>Almeida Garrett</strong><br /><br />#####################<br /><br /><strong>Glosa de Camões</strong><br /> <br />Até que no tempo cesse anónimo <br />O ténue sopro que ao tempo dou. <br />Até que o tempo oblitere o vestígio <br />leve que sobre o esquecimento paira <br />e mais não é que fino e branco <br />pó na brancura calcinada, <br />até que o tempo olvide a voz <br />que nele teimosa tece e enreda <br />a frágil teia e triturando o som <br />em eco fruste me converta <br />e insatisfeito ainda reduza o eco <br />a muda vibração silente, <br />da cinza escura tornarei por quem <br />de viver triste sou contente. <br /><br /><strong>Rui Knopfli</strong><br /><br />#######################<br /><br /><strong>Falso retrato de Camões </strong><br /><br />Era Camões? Faltava-lhe um dos olhos,<br />Tinha a barba completa,<br />O laurel do poeta<br />A gola aos folhos.<br /><br />As mãos, não nas mostrava:<br />Trazia numa a espada? Noutra a pena?<br />(E a tuba? E a avena?<br />E o rolo de papeis salvo da onda brava?)<br /><br />Era um busto, uma efígie, um cartaz de parede.<br />Era um livro fechado,<br />Escrito na poeira do passado.<br />Fonte interdita de nenhuma sede.<br /><br />Era isto, era aquilo, era o que quis<br />Quem no quis inventar<br />Expulso de si próprio, a desprezar<br />Pela flor, a semente e a raiz.<br /><br />Estava ali para servir de escudo<br />(E ele, a espada!),<br />Para dizer cultura celebrada<br />(E ele, mudo!).<br /><br />Estava ali para servir de réu.<br />(Não, não estava ali:<br />Estava em quem, por amor, o chamou para si<br />E o leu).<br /><br /><br /><strong>António Manuel Couto Viana</strong><br /><br />##########################<br /><br /><strong>A LUÍS DE CAMÕES</strong><br /><br />Sem lástima e sem ira o tempo arromba<br />As heróicas espadas. Pobre e triste<br />Á tua pátria nostálgica voltaste,<br />Ó capitão, para nela morrer<br />E com ela. No mágico deserto<br />Tinha-se a flor de Portugal perdido<br />E o áspero espanhol, antes vencido,<br />Ameaçava o seu costado aberto.<br />Que tudo o perdido, o Ocidente<br />E o Oriente, o aço e a bandeira,<br />Perduraria (alheio a toda a humana Mutação) na tua Eneida lusitana.<br /><br /><br /><strong>Jorge Luís Borges</strong><br /><br />########################<br /><br /><strong>Camões</strong><br /><br />Nem tenho versos, cedro desmedido,<br />Da pequena floresta portuguesa!<br />Nem tenho versos, de tão comovido<br />Que fico a olhar de longe tal grandeza.<br /><br />Quem te pode cantar, depois do Canto<br />Que deste à pátria, que to não merece?<br />O sol da inspiração que acendo e que levanto<br />Chega aos teus pés e como que arrefece.<br /><br />Chamar-te génio é justo, mas é pouco.<br />Chamar-te herói, é dar-te um só poder.<br />Poeta dum império que era louco,<br />Foste louco a cantar e louco a combater.<br /><br />Sirva, pois, de poema este respeito<br />Que te devo e confesso,<br />Única nau do sonho insatisfeito<br />Que não teve regresso. <br /><br /><strong>Miguel Torga</strong><br /><br />#####################<br /><br /><strong>Luís, homem estranho</strong><br /><br />Luís, homem estranho, que pelo verbo<br />és, mais que amado, o próprio amor<br />latejante, esquecido, revoltado,<br />submisso, renascente, reflorindo<br />em cem mil corações multiplicado.<br /><br />És a linguagem. Dor particular<br />deixa de existir para fazer-se <br />dar de todos os homens, musical,<br />na voz de órfico acento, peregrina.<br /><br />Que pássaro lascivo se intercala<br />no queixume subtil de tua estrofe<br />e não se sabe mais se é dor, delicia,<br />e espinho, afago, e morte, renascença?<br />Volúpia de gemer, e do gemido<br />destilar a canção consoladora<br />a quantos de consolo careciam<br />e jamais a fariam por si mesmos ? <br /> (Amaldiçoado dia de nascer<br />que em bênçãos para nós se converteu!)<br />já tenho uma palavra pré-escrita<br />que tudo exprime quanto em mim se turva.<br /><br />Pelos antigos e pelos vindouros,<br />foste discurso de geral amor, <br />Camões – oh som de vida ressoando<br />em cada tua sílaba fremente<br /> de amor e guerra e sonho entrelaçados!<br /> <br /> <br /><strong>Carlos Drummond de Andrade</strong><br /><br />#######################<br /><br /><strong>Luís, o poeta, salva a nado o poema</strong><br /><br />Era uma vez<br />um português<br />de Portugal.<br /><br />O nome Luís<br />há-de bastar<br />toda a nação<br />ouviu falar.<br /><br />Estala a guerra<br />e Portugal<br />chama Luís<br />para embarcar.<br /><br />Na guerra andou<br />a guerrear<br />e perde um olho<br />por Portugal.<br /><br />Livre da morte<br />pôs-se a contar<br />o que sabia<br />de Portugal.<br /><br />Dias e dias<br />grande pensar<br />juntou Luís<br />a recordar.<br />Ficou um livro<br />ao terminar.<br /><br />muito importante<br />para estudar:<br />Ia num barco<br />ia no mar<br />e a tormenta<br />vá d'estalar.<br /><br />Mais do que a vida<br />há-de guardar<br />o barco a pique<br />Luís a nadar.<br /><br />Fora da água<br />um braço no ar<br />na mão o livro<br />há-de salvar.<br /><br />Nada que nada<br />sempre a nadar<br />livro perdido<br />no alto mar.<br /><br />_ Mar ignorante<br />que queres roubar?<br />A minha vida<br />ou este cantar?<br />A vida é minha<br />ta posso dar<br />mas este livro<br />há-de ficar.<br /><br />Estas palavras<br />hão-de durar<br />por minha vida<br />quero jurar.<br />Tira-me as forças<br />podes matar<br />a minha alma<br />sabe voar.<br /><br />Sou português<br />de Portugal<br />depois de morto<br />não vou mudar.<br /><br />Sou português<br />de Portugal<br />acaba a vida<br />e sigo igual.<br /><br />Meu corpo é Terra<br />de Portugal<br />e morto é ilha<br />no alto mar.<br /><br />Há portugueses<br />a navegar<br />por sobre as ondas<br />me hão-de achar.<br /><br />A vida morta<br />aqui a boiar<br />mas não o livro<br />se há-de molhar.<br /><br />Estas palavras<br />vão alegrar<br />a minha gente<br />de um só pensar.<br /><br />À nossa terra<br />irão parar<br />lá toda a gente<br />há-de gostar.<br /><br />Só uma coisa<br />vão olvidar<br />o seu autor<br />aqui a nadar.<br /><br />É fado nosso<br />é nacional<br />não há portugueses<br />há Portugal.<br /><br />Saudades tenho<br />mil e sem par<br />saudade é vida<br />sem se lograr.<br /><br />A minha vida<br />vai acabar<br />mas estes versos<br />hão-de gravar.<br /><br />O livro é este<br />é este o canto<br />assim se pensa<br />em Portugal.<br /><br />Depois de pronto<br />faltava dar<br />a minha vida<br />para o salvar.<br /><br /><strong>Almada Negreiros</strong><br /><br />########################<br /><br /><strong>Camões, grande Camões</strong><br /><br />Camões, grande Camões, quão semelhante <br />Acho teu fado ao meu, quando os cotejo! <br />Igual causa nos fez, perdendo o Tejo, <br />Arrostar c'o sacrílego gigante;<br /><br />Como tu, junto ao Ganges sussurrante, <br />Da penúria cruel no horror me vejo; <br />Como tu, gostos vãos, que em vão desejo, <br />Também carpindo estou, saudoso amante. <br /><br />Ludíbrio, como tu, da Sorte dura <br />Meu fim demando ao Céu, pela certeza <br />De que só terei paz na sepultura. <br /><br />Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!... <br />Se te imito nos transes da Ventura, <br />Não te imito nos dons da Natureza. <br /><br /><strong>Bocage</strong><br /><br />#########################<br /><br /><strong>Camões e a tença</strong><br /><br />Irás ao paço. Irás pedir que a tença<br />Seja paga na data combinada.<br />Este país te mata lentamente<br />País que tu chamaste e não responde<br />País que tu nomeias e não nasce.<br /><br />Em tua perdição se conjuraram<br />Calúnias desamor inveja ardente<br />E sempre os inimigos sobejaram<br />A quem ousou ser mais que a outra gente.<br /><br />E aqueles que invocaste não te viram<br />Porque estavam curvados e dobrados<br />Pela paciência cuja mão de cinza<br />Tinha apagado os olhos no seu rosto.<br /><br />Irás ao paço irás pacientemente<br />Pois não te pedem canto mas paciência.<br /><br />Este país te mata lentamente.<br /><br /><br /><strong>Sophia de Mello Breyner Andresen</strong><br /><br />#############################<br /><br /><strong>Poema para Luís de Camões</strong><br /><br />Meu amigo, meu espanto, meu convívio, <br />Quem pudera dizer-te estas grandezas, <br />Que eu não falo do mar, e o céu é nada <br />Se nos olhos me cabe. <br />A terra basta onde o caminho pára, <br />Na figura do corpo está a escala do mundo. <br />Olho cansado as mãos, o meu trabalho, <br />E sei, se tanto um homem sabe, <br />As veredas mais fundas da palavra <br />E do espaço maior que, por trás dela, <br />São as terras da alma. <br />E também sei da luz e da memória, <br />Das correntes do sangue o desafio <br />Por cima da fronteira e da diferença. <br />E a ardência das pedras, a dura combustão <br />Dos corpos percutidos como sílex, <br />E as grutas do pavor, onde as sombras <br />De peixes irreais entram as portas <br />Da última razão, que se esconde <br />Sob a névoa confusa do discurso. <br />E depois o silêncio, e a gravidade <br />Das estátuas jazentes, repousando, <br />Não mortas, não geladas, devolvidas <br />À vida inesperada, descoberta, <br />E depois, verticais, as labaredas <br />Ateadas nas frontes como espadas, <br />E os corpos levantados, as mãos presas, <br />E o instante dos olhos que se fundem <br />Na lágrima comum. Assim o caos <br />Devagar se ordenou entre as estrelas. <br /><br />Eram estas as grandezas que dizia <br />Ou diria o meu espanto, se dizê-las <br />Já não fosse este canto. <br /><br /><strong>José Saramago</strong><br /><br />############################<br /><br /><strong>Dia da Raça</strong><br /> <br />Não vejo medalhas, <br />nem marchas militares. <br />Vejo mil soldados <br />na rua a passear... <br />Vejo mil famílias <br />que passam, comendo <br />coisas e tremoços <br />- Como ia dizendo <br />tudo se passou <br />na Praça do Império <br />Mas quanto à-vontade <br />nos rostos serenos! <br /><br />E como não sou <br />presente ou pretérito <br />regressei a casa <br />nem que sim ou pós... <br />Não vejam na frase <br />nenhuma malícia. <br />Eu sou duma raça <br />futura na História. <br />E proclamo, enquanto <br />bebo vinho verde: <br />Avante, meu povo! <br />Canta a «Portuguesa»! <br />Agora repouso, <br />relembrando os dias. <br />Releio Camões, <br />repenso os Lusíadas. <br /><br /><strong>Ruy Cinatti</strong><br /><br />#######################<br /><br /><strong>Camões </strong><br /><br />Falam de <br />Camões como falaram os <br />que desconheciam a poesia <br />Produzem cristais baços do passado <br />usam Camões como um nome perdido <br />a poesia não pode ser motivo <br />de júbilo aos que a<br />traem <br />Camões não é um túmulo perdido <br />num passado senil: Que não o cite <br />em vão quem desconhece <br />que cita um nome vivo. <br /><br /><strong>Gastão Cruz</strong><br /><br /><div style="width:425px;text-align:left" id="__ss_1716335"><a style="font:14px Helvetica,Arial,Sans-serif;display:block;margin:12px 0 3px 0;text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes/cames-1716335" title="Camões">Camões</a><object style="margin:0px" width="425" height="355"><param name="movie" value="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayer2.swf?doc=apresentao2cames-090713145203-phpapp01&stripped_title=cames-1716335" /><param name="allowFullScreen" value="true"/><param name="allowScriptAccess" value="always"/><embed src="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayer2.swf?doc=apresentao2cames-090713145203-phpapp01&stripped_title=cames-1716335" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="355"></embed></object><div style="font-size:11px;font-family:tahoma,arial;height:26px;padding-top:2px;">View more <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/">presentations</a> from <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes">maria.j.fontes</a>.</div></div><br /><em><strong>Estavas, linda Inês, posta em sossego</strong></em><br /><br />«Um, caso triste aconteceu então, um caso de infelicidade e crueldade, mas que mostra quanto é sincero e terno, sendo forte e corajoso, o coração dos Portugueses…<br /> «Tinha D. Afonso IV um filho, D. Pedro, rapaz alegre e destemido, que gostava muito de uma dama da Rainha D. Inês de Castro. <br /> «Em Coimbra, numa quinta a que mais tarde se deu o nome de Quinta das Lágrimas – pelos trágicos acontecimentos que lá se deram – vivia em sossego a linda D. Inês.<br /> «Ora o Príncipe não podia casar com uma senhora qualquer, mas só com uma Princesa de sangue real. Assim o exigiam nesse tempo os usos e normas da corte. Se Pedro não os cumprisse, não o deixariam talvez ser rei.<br /> «Por isso, muito se afligia D. Afonso, vendo o filho tão preso dos encantos de D. Inês não querendo casar-se com nenhuma Princesa verdadeira.<br /> «Aconselha-se o Rei com os sues ministros – e resolve tirar a vida à pobre D. Inês, cujo único pecado e crime era amar o seu príncipe.<br /> «Vão buscá-la a Coimbra e trazem-na arrastada à presença do Rei.<br /> «Apertando muito ao peito os filhinhos que tinha de D. Pedro, Inês chora, geme, pede e suplica piedade, não para ela, mas para os filhos, que, ficando órfãos, que perdendo a mãe, tudo perderiam. Roga a D. Afonso que antes a exile para um deserto, mesmo entre feras bravas, mas que não roube o seu amor às criancinhas que traz ao colo, inocentes de todo o mal e toda a culpa…<br /> «Ainda se comove o rei, mas não se comovem os conselheiros.<br /> «Demais a mais, ela era castelhana, e o povo não gostava das mulheres vindas do país, cujo povo tinha sido e era seu inimigo. Uma rainha castelhana era coisa que não queriam os Portugueses; mas, se tivessem visto Inês chorar e abraçada aos filhos, decerto lhe teriam perdoado… <br />«Os ministros é que não perdoavam… Arrancam das espadas de aço fino, e trespassam o seio da formosa Inês.<br /> «Mas, assim que ela morreu, chorou-a todo o povo, até a choraram os seus mais cruéis inimigos, tão nova e bonita era a apaixonada de D. Pedro …<br /><br /><br /><strong>Barros, João de</strong> – <em>Os Lusíadas contados às crianças</em>. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 2003, pp. 62-65.<br /><br /><strong>Recolha Colectiva</strong><br /><br /><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKrGMLjpfNCoMUPQ0JUyCTJryhsuPBz4rQkKA86Nu9GnMrfOfD7cweht5X1cOTBnr2yEDiFDY_f7eqOMOVXdGl4WWIOjGbPY6hKI4Undqkd4_CzEpvFBLruzb1TEQuLFKWCCogHrGg09A/s1600-h/nuit%2520sur%2520les%2520marais.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 129px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKrGMLjpfNCoMUPQ0JUyCTJryhsuPBz4rQkKA86Nu9GnMrfOfD7cweht5X1cOTBnr2yEDiFDY_f7eqOMOVXdGl4WWIOjGbPY6hKI4Undqkd4_CzEpvFBLruzb1TEQuLFKWCCogHrGg09A/s200/nuit%2520sur%2520les%2520marais.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355706346242730770" /></a><br /><br /><strong>Em prisões baixas fui um tempo atado</strong><br /><br />Em prisões baixas fui um tempo atado;<br />Vergonhoso castigo de meus erros:<br />Inda agora arrojando levo os ferros,<br />Que a morte, a meu pesar, tem já quebrado.<br /><br />Sacrifiquei a vida a meu cuidado,<br />Que Amor não quer cordeiros nem bezerros;<br />Vi mágoas, vi misérias, vi desterros:<br />Parece-me que estava assi ordenado.<br /><br />Contentei-me com pouco, conhecendo<br />Que era o contentamento vergonhoso,<br />Só por ver que coisa era viver ledo.<br /><br />Mas minha Estrela, que eu já agora entendo,<br />A Morte cega, e o Caso duvidoso<br />Me fizeram de gostos haver medo.<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />*************************************<br /><br /><strong>Verdes são os campos</strong><br /><br /><em>Verdes são os campos,<br />De cor de limão:<br />Assim são os olhos<br />Do meu coração.</em><br /><br />Campo, que te estendes<br />Com verdura bela;<br />Ovelhas, que nela<br />Vosso pasto tendes,<br />De ervas vos mantendes<br />Que traz o Verão,<br />E eu das lembranças<br />Do meu coração.<br /><br />Gados que pasceis<br />Com contentamento,<br />Vosso mantimento<br />Não no entendereis;<br />Isso que comeis<br />Não são ervas, não:<br />São graças dos olhos<br />Do meu coração.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />*************************************<br /><strong>Qual tem a borboleta por costume</strong><br /><br />Qual tem a borboleta por costume,<br />Que, enlevada na luz da acesa vela,<br />Dando vai voltas mil, até que nela<br />Se queima agora, agore se consume,<br /><br />Tal eu correndo vou ao vivo lume<br />Desses olhos gentis, Aónia bela;<br />E abraso-me por mais que com cautela<br />Livrar-me a parte racional presume.<br /><br />Conheço o muito a que se atreve a vista,<br />O quanto se levanta o pensamento,<br />O como vou morrendo claramente;<br /><br />Porém, não quer Amor que lhe resista,<br />Nem a minha alma o quer; que em tal tormento,<br />Qual em glória maior, está contente.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />*********************************************<br /><strong>Senhora minha, se de pura inveja</strong><br /><br />Senhora minha, se de pura inveja<br />Amor me tolhe a vista delicada,<br />A cor, de rosa e neve semeada,<br />E dos olhos a luz que o Sol deseja,<br /><br />Não me pode tolher que vos não veja<br />Nesta alma, que ele mesmo vos tem dada,<br />Onde vos terei sempre debuxada,<br />Por mais cruel inimigo que me seja.<br /><br />Nela vos vejo, e vejo que não nasce<br />Em belo e fresco prado deleitoso<br />Senão flor que dá cheiro a toda a serra.<br /><br />Os lírios tendes nu~a e noutra face.<br />Ditoso quem vos vir, mas mais ditoso<br />Quem os tiver, se há tanto bem na terra!<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />**********************************<br /><br /><strong>Se quando vos perdi, minha esperança</strong><br /><br />Se quando vos perdi, minha esperança,<br />A memória perdera juntamente<br />Do doce bem passado e mal presente,<br />Pouco sentira a dor de tal mudança.<br /><br />Mas Amor, em quem tinha confiança,<br />Me representa mui miudamente<br />Quantas vezes me vi ledo e contente,<br />Por me tirar a vida esta lembrança.<br /><br />De cousas de que apenas um sinal<br />Havia, porque as dei ao esquecimento,<br />Me vejo com memórias perseguido.<br /><br />Ah dura estrela minha! Ah grão tormento!<br />Que mal pode ser mor, que no meu mal<br />Ter lembranças do bem que é já passado?<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br /><br /><strong>Recolha de Manuel Silva</strong><br /><br />****************************************<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0qykKhdsuvQvP5RCUcDVWhWOPZFloYG5u5Qxtfa_LbuVX2PUDXYhPoT2G-FIOjxsHVk5Ex0KEPBzDEBkkq0BJEvdpq37WPgaKPO1hNIXmCR72Y_IR7L7fAw-VGTbHfCSYYwcS31lu5b4/s1600-h/amorssra1.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 171px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0qykKhdsuvQvP5RCUcDVWhWOPZFloYG5u5Qxtfa_LbuVX2PUDXYhPoT2G-FIOjxsHVk5Ex0KEPBzDEBkkq0BJEvdpq37WPgaKPO1hNIXmCR72Y_IR7L7fAw-VGTbHfCSYYwcS31lu5b4/s200/amorssra1.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355677128028934386" /></a><strong>Eu cantarei de amor tão docemente</strong><br /><br />Eu cantarei de amor tão docemente,<br />Por uns termos em si tão concertados,<br />Que dois mil acidentes namorados<br />Faça sentir ao peito que não sente.<br /><br />Farei que amor a todos avivente,<br />Pintando mil segredos delicados,<br />Brandas iras, suspiros magoados,<br />Temerosa ousadia e pena ausente.<br /><br />Também, Senhora, do desprezo honesto<br />De vossa vista branda e rigorosa,<br />Contentar-me-ei dizendo a menor parte.<br /><br />Porém, pera cantar de vosso gesto<br />A composição alta e milagrosa<br />Aqui falta saber, engenho e arte.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />************************************<br /><br /><strong>Acha a tenra mocidade</strong><br /><br />Acha a tenra mocidade<br />Prazeres acomodados,<br />E logo a maior idade<br />Já sente por pouquidade<br />Aqueles gostos passados. <br />Um gosto que hoje se alcança,<br />Amanhã já não o vejo;<br />Assim nos traz a mudança<br />De esperança em esperança<br />E de desejo em desejo.<br />Mas em vida tão escassa<br />Que esperança será forte?<br />Fraqueza da humana sorte,<br />Que quanto da vida passa<br />Está receitando a morte!<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />**************************************<br /><br /><strong>De vós me parto, ó vida, e em tal mudança</strong><br /><br />De vós me parto, ó vida, e em tal mudança<br />Sinto vivo da morte o sentimento.<br />Não sei para que é ter contentamento,<br />Se mais há de perder quem mais alcança!<br /><br />Mas dou-vos esta firme segurança:<br />Que, posto que me mate o meu tormento,<br />Pelas águas do eterno esquecimento<br />Segura passará minha lembrança.<br /><br />Antes sem vós meus olhos se entristeçam,<br />Que com cousa outra alguma se contentem:<br />Antes os esqueçais, que vos esqueçam.<br /><br />Antes nesta lembrança se atormentem,<br />Que com esquecimento desmereçam<br />A glória que em sofrer tal pena sentem.<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />************************************<br /><br /><strong>Males, que contra mim vos conjurastes</strong><br /><br />Males, que contra mim vos conjurastes,<br />Quanto há de durar tão duro intento?<br />Se dura, por que dure meu tormento,<br />Baste-vos quanto já me atormentastes.<br /><br />Mas se assim porfiais, porque cuidastes<br />Derribar o meu alto pensamento,<br />Mais pode a causa dele, em que o sustento,<br />Que vós, que dela mesma o ser tomastes.<br /><br />E pois vossa tenção com minha morte<br />É de acabar o mal destes amores,<br />Dai já fim a tormento tão comprido.<br /><br />Assim de ambos contente será a sorte:<br />Em vós por acabar-me, vencedores,<br />Em mim porque acabei de vós vencido.<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />***************************************<br /><br /><strong>Porque quereis, Senhora, que ofereça</strong><br /><br />Porque quereis, Senhora, que ofereça<br />A vida a tanto mal como padeço?<br />Se vos nasce do pouco que eu mereço,<br />Bem por nascer está quem vos mereça.<br /><br />Entendei que por muito que vos peça,<br />Poderei merecer quanto vos peço;<br />Pois não consente Amor que em baixo preço<br />Tão alto pensamento se conheça.<br /><br />Assim que a paga igual de minhas dores<br />Com nada se restaura, mas deveis-ma<br />Por ser capaz de tantos desfavores.<br /><br />E se o valor de vossos amadores<br />Houver de ser igual convosco mesma,<br />Vós só convosco mesma andai de amores.<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br /><br /><strong>Recolha de Olga Pereira</strong><br /><br />***************************************<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUBqEdn4vou1yQccICu1gJHWFCKTPRN2iFoXlrpAnVOqghSTIsRa7Izs38AYChfkt_1e86AEH6GLwnzKAMse9UP-wUP1QgjKhTqpWrtrhXKLvSgPO2Jxz87Z0aXoMWrwfwgxf4NMiCr6A/s1600-h/2740562837_640f505b26.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 127px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUBqEdn4vou1yQccICu1gJHWFCKTPRN2iFoXlrpAnVOqghSTIsRa7Izs38AYChfkt_1e86AEH6GLwnzKAMse9UP-wUP1QgjKhTqpWrtrhXKLvSgPO2Jxz87Z0aXoMWrwfwgxf4NMiCr6A/s200/2740562837_640f505b26.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355678186607909714" /></a><strong>Ditosa Ave </strong><br /><br />Quem fosse acompanhando juntamente <br />Por esses verdes campos a avezinha, <br />Que despois de perder um bem que tinha, <br />Não sabe mais que cousa é ser contente! <br /><br />E quem fosse apartando-se da gente, <br />Ela por companheira e por vizinha, <br />Me ajudasse a chorar a pena minha, <br />E eu a ela também a que ela sente! <br /><br />Ditosa ave! que ao menos, se a natura <br />A seu primeiro bem não dá segundo, <br />Dá-lhe o ser triste a seu contentamento. <br /><br />Mas triste quem de longe quis ventura <br />Que para respirar lhe falte o vento, <br />E para tudo, enfim, lhe falte o mundo! <br /><br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br /><br />****************************************<br /><br /><strong>Enquanto quis Fortuna que tivesse</strong><br /><br />Enquanto quis Fortuna que tivesse<br />Esperança de algum contentamento,<br />O gosto de um suave pensamento<br />Me fez que seus efeitos escrevesse.<br /><br />Porém, temendo Amor que aviso desse<br />Minha escritura a algum juízo isento,<br />Escureceu-me o engenho co'o tormento,<br />Para que seus enganos não disesse<br /><br />Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos<br />A diversas vontades! Quando lerdes<br />Num breve livro casos tão diversos,<br /><br />Verdades puras são e não defeitos;<br />E sabei que, segundo o amor tiverdes,<br />Tereis o entendimento de meus versos.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />*************************************<br /><br /><strong>Coitado! que em um tempo choro e rio</strong><br /><br />Coitado! que em um tempo choro e rio;<br />Espero e temo, quero e aborreço;<br />Juntamente me alegro e entristeço;<br />Du~a cousa confio e desconfio.<br /><br />Voo sem asas; estou cego e guio;<br />E no que valho mais menos mereço.<br />Calo e dou vozes, falo e emudeço,<br />Nada me contradiz, e eu aporfio.<br /><br />Queria, se ser pudesse, o impossível;<br />Queria poder mudar-me e estar quedo;<br />Usar de liberdade e estar cativo;<br /><br />Queria que visto fosse e invisível;<br />Queira desenredar-me e mais me enredo:<br />Tais os extremos em que triste vivo!<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />*********************************<br /><br /><strong>Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente</strong><br /> <br />Erros meus, má Fortuna, Amor ardente <br />Em minha perdição se conjuraram; <br />Os erros e a Fortuna sobejaram, <br />Que para mim bastava Amor somente. <br /><br />Tudo passei; mas tenho tão presente <br />A grande dor das cousas que passaram, <br />Que já as frequências suas me ensinaram <br />A desejos deixar de ser contente. <br /><br />Errei todo o discurso de meus anos; <br />Dei causa a que a Fortuna castigasse <br />As minhas mal fundadas esperanças. <br /><br />De Amor não vi senão breves enganos. <br />Oh! Quem tanto pudesse, que fartasse <br />Este meu duro Génio de vinganças! <br /><br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />************************************<br /><br /><strong>Sete anos de pastor Jacob servia</strong><br /><br />Sete anos de pastor Jacob servia<br />Labão, pai de Raquel, serrana bela;<br />Mas não servia ao pai, servia a ela,<br />Que a ela só por prémio pretendia.<br /><br />Os dias na esperança de um só dia<br />Passava, contentando-se com vê-la;<br />Porém o pai, usando de cautela,<br />Em lugar de Raquel lhe deu Lia.<br /><br />Vendo o triste pastor que com enganos<br />Assim lhe era negada a sua pastora,<br />Como se a não tivera merecida;<br /><br />Começou a servir outros sete anos,<br />Dizendo: − Mais servira, senão fora<br />Para tão longo amor tão curta a vida.<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br /><strong>Recolha de Luís Pereira</strong><br /><br />*******************************************<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEit2O7wTnRKdyTG2o9Ctgr4JrR7m4Ju9uvrswPgh7B6usTJgqhz0eGd53kPG5jbeC8djU-PsY1hQ1SHDD3XpKWn5Lga1a1lTDuJ2JxmhYuayWZuffwVK3wMG9Pu7KD4E-crN4hvu21HFnc/s1600-h/bilder_van-anthonis-dyck-amor-und-psyche-02722.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 192px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEit2O7wTnRKdyTG2o9Ctgr4JrR7m4Ju9uvrswPgh7B6usTJgqhz0eGd53kPG5jbeC8djU-PsY1hQ1SHDD3XpKWn5Lga1a1lTDuJ2JxmhYuayWZuffwVK3wMG9Pu7KD4E-crN4hvu21HFnc/s200/bilder_van-anthonis-dyck-amor-und-psyche-02722.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355678601836242306" /></a><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><strong>De quem o mesmo Amor não se Apartava</strong><br /> <br />Já a roxa e clara Aurora destroçava <br />Os seus cabelos de ouro delicados, <br />E das flores os campos esmaltados <br />Com cristalino orvalho borrifava; <br /><br />Quando o formoso gado se espalhava <br />De Sílvio e de Laurente pelos prados; <br />Pastores ambos, e ambos apartados <br />De quem o mesmo Amor não se apartava. <br /><br />Com verdadeiras lágrimas, Lactente, <br />− Não sei − dizia − ó Ninfa delicada, <br />Porque não morre já quem vive ausente, <br /><br />Pois a vida sem ti não presta nada. <br />Responde Sílvio: − Amor não o consente, <br />Que ofende as esperanças da tornada. <br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />**************************************<br /><br /><strong>Tomou-me vossa vista soberana</strong><br /><br />Tomou-me vossa vista soberana<br />Aonde tinha as armas mais à mão,<br />Por mostrar que quem busca defensão<br />Contra esses belos olhos, que se engana.<br /><br />Por ficar da vitória mais ufana,<br />Deixou-me armar primeiro da razão;<br />Cuidei de me salvar, mas foi em vão,<br />Que contra o Céu não vale defensa humana.<br /><br />Mas porém, se vos tinha prometido<br />O vosso alto destino esta vitória,<br />Ser-vos tudo bem pouco está sabido.<br /><br />Que posto que estivesse apercebido,<br />Não levais de vencer-me grande glória;<br />Maior a levo eu de ser vencido.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />*************************************<br /><br /><strong>O fogo que na branda cera ardia</strong><br /><br />O fogo que na branda cera ardia,<br />Vendo o rosto gentil que na alma vejo.<br />Se acendeu de outro fogo do desejo,<br />Por alcançar a luz que vence o dia.<br /><br />Como de dois ardores se incendia,<br />Da grande impaciência fez despejo,<br />E, remetendo com furor sobejo,<br />Vos foi beijar na parte onde se via.<br />O fogo que na branda cera ardia,<br /><br />O fogo que na branda cera ardia,<br />Vendo o rosto gentil que na alma vejo.<br />Se acendeu de outro fogo do desejo,<br />Por alcançar a luz que vence o dia.<br /><br />Como de dois ardores se incendia,<br />Da grande impaciência fez despejo,<br />E, remetendo com furor sobejo,<br />Vos foi beijar na parte onde se via.<br /><br />Ditosa aquela flama, que se atreve<br />Apagar seus ardores e tormentos<br />Na vista do que o mundo tremer deve!<br /><br />Namoram-se, Senhora, os Elementos<br />De vós, e queima o fogo aquela nave<br />Que queima corações e pensamentos.<br /> <br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />************************************<br /><br /><strong>Quando me quer enganar</strong><br /><br />Quando me quer enganar<br />A minha bela perjura,<br />Pera mais me confirmar<br />O que quer certificar,<br />Pelos seus olhos mo jura.<br />Como meu contentamento<br />Todo se rege por eles,<br />Imagina o pensamento<br />Que se faz agravo a eles<br />Não crer tão grão juramento.<br /><br />Porém, como em casos tais<br />Ando já visto e corrente,<br />Sem outros certos sinais,<br />Quanto me ela jura mais,<br />Tanto mais cuido que mente.<br />Então, vendo-lhe ofender<br />Uns tais olhos como aqueles,<br />Deixo-me antes tudo crer,<br />Só pela não constranger<br />A jurar falso por eles.<br /><br /> <strong> Luís de Camões</strong><br /><br />*******************************************<br /><br /><br /><strong>Em amor não há senão enganos</strong><br /><br />Suspiros inflamados que cantais<br />A tristeza com que eu vivi tão cedo;<br />Eu morro e não vos levo, porque hei medo<br />Que ao passar do Leteo vos percais.<br /><br />Escritos para sempre já ficais<br />Onde vos mostrarão todos co'o dedo,<br />Como exemplo de males; e eu concedo<br />Que para aviso de outros estejais.<br /><br />Em quem, pois, virdes largas esperanças<br />De Amor e da Fortuna (cujos danos<br />Alguns terão por bem-aventuranças),<br /><br />Dizei-lhe que os servistes muitos anos,<br />E que em Fortuna tudo são mudanças,<br />E que em Amor não há senão enganos.<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br /><strong>Recolha de Isaura Pereira</strong><br /><br />*********************************************<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhY2EMXhbwmgcBT4a9Xix_YI_JHsg_qNv0hzSaNOf-H0QKC8k04QcRscq3tQuc1BMuDfWfKqaDzADq-0cORyYATm75gQqQ03uqsSZgmp8702e1tIOtjQO7ky-0xEDv_1LMYoQ3UaRq_ugw/s1600-h/amor.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 144px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhY2EMXhbwmgcBT4a9Xix_YI_JHsg_qNv0hzSaNOf-H0QKC8k04QcRscq3tQuc1BMuDfWfKqaDzADq-0cORyYATm75gQqQ03uqsSZgmp8702e1tIOtjQO7ky-0xEDv_1LMYoQ3UaRq_ugw/s200/amor.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355678862179113538" /></a><strong>Amor, que o gesto humano na alma escreve</strong><br /><br />Amor, que o gesto humano na alma escreve,<br />Vivas faíscas me mostrou um dia,<br />Donde um puro cristal se derretia<br />Por entre vivas rosas e alva neve.<br /><br />A vista, que em si mesma não se atreve,<br />Por se certificar do que ali via,<br />Foi convertida em fonte, que fazia<br />A dor ao sofrimento doce e leve.<br /><br />Jura Amor que brandura de vontade<br />Causa o primeiro efeito; o pensamento<br />Endoudece, se cuida que é verdade.<br /><br />Olhai como Amor gera, num momento<br />De lágrimas de honesta piedade,<br />Lágrimas de imortal contentamento.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />*****************************************<br /><br /><strong>Quantas vezes do fuso se esquecia</strong><br /><br />Quantas vezes do fuso se esquecia<br />Daliana, banhando o lindo seio,<br />Outras tantas de um áspero receio<br />Salteado Laurénio a cor perdia.<br /><br />Ela, que a Sílvio mais que a si queria,<br />Para podê-lo ver não tinha meio.<br />Ora como curara o mal alheio<br />Quem o seu mal tão mal curar podia?<br /><br />Ele, que viu tão clara esta verdade,<br />Com soluços dizia (que a espessura<br />Inclinavam, de mágoa, a piedade):<br /><br />Como pode a desordem da natura<br />Fazer tão diferentes na vontade<br />Aos que fez tão conformes na ventura?<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />*************************************<br /><br /><strong>Se me vem tanta glória só de olhar-te</strong><br /><br />Se me vem tanta glória só de olhar-te,<br />ƒÉ pena desigual deixar de ver-te;<br />Se presumo com obras merecer-te,<br />Grão paga de um engano é desejar-te.<br /><br />Se aspiro por quem és a celebrar-te,<br />Sei certo por quem sou que hei-de ofender-te;<br />Se mal me quero a mim por bem querer-te,<br />Que prémio querer posso mais que amar-te?<br /><br />Porque um tão raro amor não me socorre?<br />Ó humano tesouro! Ó doce glória!<br />Ditoso quem à morte por ti corre!<br /><br />Sempre escrita estarás nesta memória;<br />E esta alma viverá, pois por ti morre,<br />Porque ao fim da batalha é a vitória.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />**************************************<br /><br /><strong>Entre estes penedos</strong><br /><br /> <br />Verdes são as hortas <br />com rosas e flores; <br />moças que as regam <br />matam-me d'amores.<br /><br />Entre estes penedos <br />que daqui parecem, <br />verdes ervas crecem, <br />altos arvoredos. <br />Vai destes rochedos <br />água com que as flores <br />d'outras são regadas <br />que matam d'amores.<br /><br />Co a água que cai <br />daquela espessura, <br />outra se mestura <br />que dos olhos sai:<br />toda junta vai <br />regar brancas flores, <br />onde há outros olhos<br />que matam d'amores.<br /><br />Celestes jardins, <br />as flores, estrelas, <br />horteloas delas <br />são uns serafins. <br />Rosas e jasmins <br />de diversas cores; <br />Anjos que as regam <br />matam-me d'amores.<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br /><strong>Recolha de Ricardo Pinto</strong><br /><br />***************************************<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgs8IqudCOaxo6gFYhSiZ_nM-ywiefKf9p7lA5CMqi_U2EUYokYC7NKeTi3ZYACr0dLM3Ej5IjBmpSPv5X7K25TqFEPmY08ovTpMH2xeV_kcErT0xrRbMP_QAn2YZ4327r8WoI-5XDnAYk/s1600-h/valkirio.bmp"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 174px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgs8IqudCOaxo6gFYhSiZ_nM-ywiefKf9p7lA5CMqi_U2EUYokYC7NKeTi3ZYACr0dLM3Ej5IjBmpSPv5X7K25TqFEPmY08ovTpMH2xeV_kcErT0xrRbMP_QAn2YZ4327r8WoI-5XDnAYk/s200/valkirio.bmp" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355679500921146274" /></a><strong>Vencido está de amor</strong><br /><br />Vencido está de amor<br />O mais que pode ser<br />Sujeita a vos servir e<br />Oferecendo tudo <br /><br />Contente deste bem,<br />Outra vez renovar<br />A causa que me guia<br />Ou hora em que se viu<br /><br />Mil vezes desejando<br />Com essa pretensão <br />Tão estranha, tão doce,<br /><br />Voltando só por vós<br />Jurando não seguir <br />Sem ser no vosso amor <br /><br />Meu pensamento<br />Vencida a vida,<br />Instituída,<br />A vosso intento.<br /><br />Louva o momento<br />Tão bem perdida;<br />A tal ferida,<br />Seu perdimento.<br /><br />Está segura<br />Nesta empresa,<br />Honrosa e alta<br /><br />Outra ventura,<br />Rara firmeza,<br />Achado em falta.<br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />************************************<br /><br /><strong>Quem presumir, Senhora, de louvar-vos</strong><br /><br />Quem presumir, Senhora, de louvar-vos<br />Com humano saber, e não divino,<br />Ficará de tamanha culpa dino<br />Quamanha ficais sendo em contemplar-vos.<br /><br />Não pretenda ninguém de louvor dar-vos,<br />Por mais que raro seja, e peregrino:<br />Que vossa fermosura eu imagino<br />Que Deus a ele só quis comparar-vos.<br /><br />Ditosa esta alma vossa, que quisestes<br />Em posse pôr de prenda tão subida,<br />Como, Senhora, foi a que me destes.<br /><br />Melhor a guardarei que a própria vida;<br />Que, pois mercê tamanha me fizestes,<br />De mim será jamais nunca esquecida.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />*****************************************<br /><br /><strong>Bem Sei, Amor, que é Certo o que Receio </strong><br /><br /><br />Bem sei, Amor, que é certo o que receio; <br />Mas tu, porque com isso mais te apuras, <br />De manhoso, mo negas, e mo juras <br />Nesse teu arco de ouro; e eu te creio. <br /><br />A mão tenho metida no meu seio, <br />E não vejo os meus danos às escuras; <br />Porém porfias tanto e me asseguras, <br />Que me digo que minto, e que me enleio. <br /><br />Nem somente consinto neste engano, <br />Mas inda to agradeço, e a mim me nego <br />Tudo o que vejo e sinto de meu dano. <br /><br />Oh poderoso mal a que me entrego! <br />Que no meio do justo desengano <br />Me possa inda cegar um moço cego?<br /> <br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />**********************************************<br /><br /><strong>Sempre a Razão vencida foi de Amor</strong><br /><br />Sempre a Razão vencida foi de Amor;<br />Mas, porque assim o pedia o coração,<br />Quis Amor ser vencido da Razão.<br />Ora que caso pode haver maior!<br /><br />Novo modo de morte e nova dor!<br />Estranheza de grande admiração,<br />Que perde suas forças a afeição,<br />Por que não perca a pena o seu rigor.<br /><br />Pois nunca houve fraqueza no querer,<br />Mas antes muito mais se esforça assim<br />Um contrário com outro por vencer.<br /><br />Mas a Razão, que a luta vence, enfim,<br />Não creio que é Razão; mas há-de ser<br />Inclinação que eu tenho contra mim.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />******************************************<br /><br /><strong>Posto me tem Fortuna em tal estado</strong><br /><br />Posto me tem Fortuna em tal estado,<br />E tanto a seus pés me tem rendido!<br />Não tenho que perder já, de perdido;<br />Não tenho que mudar já, de mudado.<br /><br />Todo o bem pera mim é acabado;<br />Daqui dou o viver já por vivido;<br />Que, aonde o mal é tão conhecido,<br />Também o viver mais será escusado,<br /><br />Se me basta querer, a morte quero,<br />Que bem outra esperança não convém;<br />E curarei um mal com outro mal.<br /><br />E, pois do bem tão pouco bem espero,<br />Já que o mal este só remédio tem,<br />Não me culpem em querer remédio tal.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br /><br /><strong>Recolha de João Fernandes</strong><br /><br />*********************************************<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyRsLzUnkJZ-w63Hw3oJqFxoE0EpaE9PitrBkCecjvyLC9rTj5f8Wz9wR9QiP72Ji6Ti0h_PW_UfA4wW7XRLUQlRd_YI80xQYv_J74pOfYdW_DvkOTBnCln2yANaXdy92uh3s7wvyiXjg/s1600-h/CarlosZevSolano-Sol-numa-bela-manha.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 170px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyRsLzUnkJZ-w63Hw3oJqFxoE0EpaE9PitrBkCecjvyLC9rTj5f8Wz9wR9QiP72Ji6Ti0h_PW_UfA4wW7XRLUQlRd_YI80xQYv_J74pOfYdW_DvkOTBnCln2yANaXdy92uh3s7wvyiXjg/s200/CarlosZevSolano-Sol-numa-bela-manha.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355680361162769442" /></a><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><strong>Repouso na alegria comedido</strong><br /><br />Leda serenidade deleitosa, <br />Que representa em terra um paraíso; <br />Entre rubis e perlas, doce riso, <br />Debaixo de ouro e neve, cor-de-rosa; <br /><br />Presença moderada e graciosa, <br />Onde ensinando estão despejo e siso <br />Que se pode por arte e por aviso, <br />Como por natureza, ser formosa; <br /><br />Fala de que ou já vida, ou morte pende, <br />Rara e suave, enfim, Senhora, vossa, <br />Repouso na alegria comedido: <br /><br />Estas as armas são com que me rende <br />E me cativa Amor; mas não que possa <br />Despojar-me da glória de rendido. <br /><br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />*****************************************<br /><br /><strong>Alma minha gentil, que te partiste</strong><br /><br />Alma minha gentil, que te partiste<br />Tão cedo desta vida, descontente,<br />Repousa lá no Céu eternamente<br />E viva eu cá na terra sempre triste.<br /><br />Se lá no assento etéreo, onde subiste,<br />Memória desta vida se consente,<br />Não te esqueças daquele amor ardente<br />Que já nos olhos meus tão puro viste.<br /><br />E se vires que pode merecer-te<br />Algu~a cousa a dor que me ficou<br />Da mágoa, sem remédio, de perder-te,<br /><br />Roga a Deus, que teus anos encurtou,<br />Que tão cedo de cá me leve a ver-te,<br />Quão cedo de meus olhos te levou.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />**********************************************<br /><br /><br /><strong>Se pena por amar-vos se merece</strong><br /><br />Se pena por amar-vos se merece,<br />Quem dela livre está? ou quem isento?<br />Que alma, que razão, que entendimento<br />Em ver-vos se não rende e obedece?<br /><br />Que mor glória na vida se oferece<br />Que ocupar-se em vós o pensamento?<br />Toda a pena cruel, todo o tormento<br />Em ver-vos se não sente, mas esquece.<br /><br />Mas se merece pena quem amando<br />Contínuo vos está, se vos ofende,<br />O mundo matareis, que todo é vosso.<br /><br />Em mim, Senhora, podeis ir começando,<br />Que claro se conhece e bem se entende<br />Amar-vos quanto devo e quanto posso.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />****************************************<br /><br /><strong>Passo por meus trabalhos tão isento</strong><br /><br />Passo por meus trabalhos tão isento<br />De sentimento grande nem pequeno,<br />Que só por a vontade com que peno<br />Me fica Amor devendo mais tormento.<br /><br />Mas vai-me Amor matando tanto a tento,<br />Temperando a triaga c'o veneno,<br />Que do penar a ordem desordeno,<br />Porque não mo consente o sofrimento.<br /><br />Porém se esta fineza o Amor sente<br />E pagar-me meu mal com mal pretende,<br />Torna-me com prazer como ao sol neve.<br /><br />Mas se me vê co'os males tão contente,<br />Faz-se avaro da pena, porque entende<br />Que quanto mais me paga, mais me deve.<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />*****************************************<br /><br /><strong>Jurando de não Mais em Outra Ver-me</strong> <br /><br />Como quando do mar tempestuoso <br />O marinheiro todo trabalhado, <br />De um naufrágio cruel saindo a nado, <br />Só de ouvir falar nele está medroso; <br /><br />Firme jura que o vê-lo bonançoso <br />Do seu lar o não tire sossegado; <br />Mas esquecido já do horror passado, <br />Dele a fiar se torna cobiçoso; <br /><br />Assi, Senhora, eu que da tormenta <br />De vossa vista fujo, por salvar-me, <br />Jurando de não mais em outra ver-me; <br /><br />Com a alma que de vós nunca se ausenta, <br />Me torno, por cobiça de ganhar-me, <br />Onde estive tão perto de perder-me. <br /><br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br /><br /><strong>Recolha de Elisabete Fernandes</strong><br /><br />***************************************************<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHs0tCVi74ucSMcOkyS0R3ZYRvn-zD4SXeTp6mxUGme5TqT0XcpTKvrMbwegg46JcbjA4tbm6S-jp1-0glon8kxdFVPpvSK1BtWvbxa8Q31Zd_s6sMO_4WtcUD6GxxuYh1qVGkRJitWDM/s1600-h/7006853d7330754109ab7289a7845529_web.gif"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 180px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHs0tCVi74ucSMcOkyS0R3ZYRvn-zD4SXeTp6mxUGme5TqT0XcpTKvrMbwegg46JcbjA4tbm6S-jp1-0glon8kxdFVPpvSK1BtWvbxa8Q31Zd_s6sMO_4WtcUD6GxxuYh1qVGkRJitWDM/s200/7006853d7330754109ab7289a7845529_web.gif" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355682546920261938" /></a><strong>A verdura amena</strong><br /><br /><em>Se Helena apartar do <br />campo seus olhos, <br />nascerão abrolhos.</em><br /><br />A verdura amena, <br />gados, que pasceis, <br />sabei que a deveis <br />aos olhos de Helena. <br />Os ventos serena, <br />faz flores de abrolhos <br />o ar de seus olhos.<br /><br />Faz serras floridas, <br />faz claras as fontes: <br />se isto faz nos montes, <br />que fará nas vidas? <br />Trá-las suspendidas <br />como ervas em molhos, <br />na luz de seus olhos. <br /><br />Os corações prende <br />com graça inumana <br />de cada pestana <br />ü alma lhe pende. <br />Amor se lhe rende, <br />e, posto em giolhos, <br />pasma nos seus olhos<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />*************************************<br /><br /><strong>Canção II</strong><br /><br /><br />Se este meu pensamento,<br />como é, doce e suave,<br />de alma pudesse vir gritando fora,<br />mostrando seu tormento<br />cruel, áspero e grave,<br />diante de vós só, minha Senhora,<br />pudera ser que agora<br />o vosso peito duro<br />tornara manso e brando.<br />E eu que sempre ando<br />pássaro solitário, humilde, escuro,<br />tornado um cisne puro,<br />brando e sonoro pelo ar voando,<br />com canto manifesto,<br />pintara meu tormento e vosso gesto.<br /><br />Pintara os olhos belos<br />que trazem nas mininas<br />o Minino que os seus neles cegou;<br />e os dourados cabelos<br />em tranças de ouro finas<br />a quem o Sol seus raios abaixou;<br />a testa que ordenou<br />Natura tão fermosa;<br />o bem proporcionado<br />nariz, lindo, afilado,<br />que a cada parte tem a fresca rosa;<br />a boca graciosa<br />– que querê-la louvar é escusado –,<br />enfim, é um tesouro:<br />os dentes, perlas; as palavras, ouro.<br /><br />Vira-se claramente,<br />ó Dama delicada,<br />que em vós se esmerou a Natureza;<br />e eu, de gente em gente,<br />trouxera trasladada<br />em meu tormento vossa gentileza.<br />Somente a aspereza<br />de vossa condição,<br />Senhora, não dissera,<br />por que se não soubera<br />que em vós podia haver algum senão.<br />E se alguém, com razão,<br />«Porque morres?» dissera, respondera:<br />«Mouro porque é tão bela<br />que inda não sou pera morrer por ela».<br /><br />E se porventura,<br />Dama, vos ofendesse,<br />escrevendo de vós o que não sento,<br />e vossa fermosura<br />tão baixo não descesse<br />que a alcançasse um baixo entendimento,<br />seria o fundamento<br />daquilo que cantasse<br />todo de puro amor,<br />por que vosso louvor<br />em figura de mágoas se mostrasse.<br />E onde se julgasse<br />a causa pelo efeito, minha dor<br />diria ali sem medo:<br />«quem me sentir verá de quem procedo».<br /><br />Então amostraria<br />os olhos saudosos,<br />o suspirar que a alma traz consigo,<br />a fingida alegria,<br />os passos vagarosos,<br />o falar, o esquecer-me do que digo;<br />um pelejar comigo,<br />e logo desculpar-me;<br />um recear, ousando;<br />andar meu bem buscando,<br />e de poder achá-lo acovardar-me;<br />enfim, averiguar-me<br />que o fim de tudo quanto estou falando<br />são lágrimas e amores;<br />são vossas isenções e minhas dores.<br /><br />Mas quem terá, Senhora,<br />palavras com que iguale<br />com vossa fermosura minha pena;<br />que em doce voz de fora<br />aquela glória fale<br />que dentro na minh' alma Amor ordena?<br />Não pode tão pequena<br />força de engenho humano<br />com carga tão pesada,<br />se não for ajudada<br />dum piadoso olhar, dum doce engano<br />que, fazendo-me o dano<br />tão deleitoso e a dor tão moderada,<br />que enfim se convertesse<br />nos gostos dos louvores que escrevesse.<br /><br />Canção, não digas mais; e se teus versos<br />à pena vêm pequenos,<br />não queiram de ti mais, que dirás menos.<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />**********************************************<br /><br /><strong>Amor é fogo que arde sem se ver</strong><br /><br />Amor é fogo que arde sem se ver;<br />É ferida que dói e não se sente;<br />É um contentamento descontente;<br />É dor que desatina sem doer;<br /><br />É um não querer mais que bem querer;<br />É solitário andar por entre a gente;<br />É nunca contentar-se de contente;<br />É cuidar que se ganha em se perder;<br /><br />É querer estar preso por vontade;<br />É servir a quem vence, o vencedor;<br />É ter com quem nos mata lealdade.<br /><br />Mas como causar pode seu favor<br />Nos corações humanos amizade,<br />Se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br /><br /> <strong> Luís de Camões</strong><br /><br />**************************************<br /><br /><strong>Aquela triste e leda madrugada</strong><br /><br />Aquela triste e leda madrugada,<br />Cheia toda de mágoa e de piedade,<br />Enquanto houver no mundo saudade,<br />Quero que seja sempre celebrada.<br /><br />Ela só, quando amena e marchetada<br />Saía, dando à terra claridade,<br />Viu apartar-se de uma outra vontade,<br />Que nunca poderá ver-se apartada.<br /><br />Ela só viu as lágrimas em fio,<br />Que de uns e de outros olhos derivadas,<br />Juntando-se, formaram largo rio.<br /><br />Ela ouviu as palavras magoadas<br />Que puderam tornar o fogo frio<br />E dar descanso às almas condenadas<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />***************************************<br /><br /><strong>Olhos em que estão mil flores</strong><br /><br /><br /><em>Olhos em que estão mil flores <br />e com tanta graça olhais, <br />que parece que os Amores <br />moram onde vós morais.</em><br /><br />Vêm-se rosas e boninas, <br />olhos, nesse vosso ver; <br />vêm-se mil almas arder <br />no fogo dessas mininas. <br />E di-lo hão minhas dores, <br />meus suspiros, e meus ais; <br />e dirão mais, que os Amores<br />moram onde vós morais.<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br /><strong>Recolha de José Augusto Gaspar</strong><br /><br />*************************************<br /><br /><strong>O tempo acaba o ano, o mês e a hora</strong><br /><br />O tempo acaba o ano, o mês e a hora,<br />A força, a arte, a manha, a fortaleza;<br />O tempo acaba a fama e a riqueza,<br />O tempo o mesmo tempo de si chora;<br /><br />O tempo busca e acaba o onde mora<br />Qualquer ingratidão, qualquer dureza;<br />Mas não pode acabar minha tristeza,<br />Enquanto não quiserdes vós, Senhora.<br /><br />O tempo o claro dia torna escuro<br />E o mais ledo prazer em choro triste;<br />O tempo, a tempestade em grão bonança.<br /><br />Mas de abrandar o tempo estou seguro<br />O peito de diamante, onde consiste<br />A pena e o prazer desta esperança.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />************************************<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHvN-ufsZE9rCBht4bwzOudjQp5TAK66pO-CUCV934izK27Fhk74vTulpAHz9dojpieSv2Hu0gz_xEq2U3WqhBgBSWaE8pse0RZcxqmbjZkZLC1397Ltx64uuGf4RczJAu5Mh89SR5v88/s1600-h/passaro-e-flores_646_1152x864.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 160px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHvN-ufsZE9rCBht4bwzOudjQp5TAK66pO-CUCV934izK27Fhk74vTulpAHz9dojpieSv2Hu0gz_xEq2U3WqhBgBSWaE8pse0RZcxqmbjZkZLC1397Ltx64uuGf4RczJAu5Mh89SR5v88/s200/passaro-e-flores_646_1152x864.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355685808223076690" /></a><strong>Está o lascivo e doce passarinho</strong><br /><br />Está o lascivo e doce passarinho<br />Com o biquinho as penas ordenando,<br />O verso sem medida, alegre e brando,<br />Despedindo no rústico raminho.<br /><br />O cruel caçador, que do caminho<br />Se vem calado e manso desviando,<br />Com pronta vista a seta endireitando,<br />Lhe dá no Estígio Lago eterno ninho.<br /><br />Desta arte o coração, que livre andava,<br />(Posto que já de longe destinado)<br />Onde menos temia, foi ferido.<br /><br />Porque o Frecheiro cego me esperava,<br />Para que me tomasse descuidado,<br />Em vossos claros olhos escondido.<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />***************************************<br /><br /><br /><strong>Lembranças, que lembrais meu bem passado</strong><br /><br />Lembranças, que lembrais meu bem passado,<br />Pera que sinta mais o mal presente,<br />Deixai-me, se quereis, viver contente,<br />Não me deixeis morrer em tal estado.<br /><br />Mas se também de tudo está ordenado<br />Viver, como se vê, tão descontente,<br />Venha, se vier, o bem por acidente,<br />E dê a morte fim a meu cuidado.<br /><br />Que muito melhor é perder a vida,<br />Perdendo-se as lembranças da memória,<br />Pois fazem tanto dano ao pensamento.<br /><br />Assim que nada perde quem perdida<br />A esperança traz de sua glória,<br />Se esta vida há-de ser sempre em tormento.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />***************************************<br /><br /><strong>Que me quereis, perpétuas saudades?</strong><br /><br />Que me quereis, perpétuas saudades?<br />Com que esperança inda me enganais?<br />Que o tempo que se vai não torna mais,<br />E se torna, não tornam as idades.<br /><br />Razão é já, ó anos, que vos vades,<br />Porque estes tão ligeiros que passais,<br />Nem todos pera um gosto são iguais,<br />Nem sempre são conformes as vontades.<br /><br />Aquilo a que já quis é tão mudado,<br />Que quase é outra cousa, porque os dias<br />Têm o primeiro gosto já danado.<br /><br />Esperanças de novas alegrias<br />Não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,<br />Que do contentamento são espias.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />*******************************<br /><br /><strong>Somente se Queixa de Amorosas Esquivanças</strong><br /><br /> <br />Ditoso seja aquele que somente <br />Se queixa de amorosas esquivanças; <br />Pois por elas não perde as esperanças <br />De poder nalgum tempo ser contente. <br /><br />Ditoso seja quem estando ausente <br />Não sente mais que a pena das lembranças; <br />Porquinha que se tema de mudanças, <br />Menos se teme a dor quando se sente. <br /><br />Ditoso seja, enfim, qualquer estado, <br />Onde enganos, desprezos e isenção <br />Trazem um coração atormentado. <br /><br />Mas triste quem se sente magoado <br />De erros em que não pode haver perdão <br />Sem ficar na alma a mágoa do pecado. <br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br /><strong>Recolha de Jorge Silva</strong><br /><br />*********************************************<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaTAQL6gMHQQ3VKWQMMdfiKCUY9un0y0CTImVVKn_drK6wOoGJsexqydrroazt3hotWcREWwNm6P3QUd_SdnxdKRDVTqd2Swh3DQPjo5pQsDDg0la0utwBR3lwgMxXo7r5wCCVwMVkEMs/s1600-h/forlornko0.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 128px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaTAQL6gMHQQ3VKWQMMdfiKCUY9un0y0CTImVVKn_drK6wOoGJsexqydrroazt3hotWcREWwNm6P3QUd_SdnxdKRDVTqd2Swh3DQPjo5pQsDDg0la0utwBR3lwgMxXo7r5wCCVwMVkEMs/s200/forlornko0.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355698078473670162" /></a><br /><strong>Onde acharei lugar tão apartado</strong><br /><br />Onde acharei lugar tão apartado<br />E tão isento em tudo da ventura,<br />Que, não digo eu de humana criatura,<br />Mas nem de feras seja frequentado?<br /><br />Algum bosque medonho e carregado,<br />Ou selva solitária, triste e escura,<br />Sem fonte clara ou plácida verdura,<br />Enfim, lugar conforme a meu cuidado?<br /><br />Porque ali, nas entranhas dos penedos,<br />Em vida morto, sepultado em vida,<br />Me queixe copiosa e livremente;<br /><br />Que, pois a minha pena é sem medida,<br />Ali triste serei em dias ledos<br />E dias tristes me farão contente.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />**************************************************<br /><br /><br /><strong>Quem pode livre ser, gentil Senhora</strong><br /><br />Quem pode livre ser, gentil Senhora,<br />Vendo-vos com juízo sossegado,<br />Se o Menino que de olhos é privado<br />Nas meninas de vossos olhos mora?<br /><br />Ali manda, ali reina, ali namora,<br />Ali vive das gentes venerado;<br />Que o vivo lume e o rosto delicado<br />Imagens são nas quais o Amor se adora.<br /><br />Quem vê que em branca neve nascem rosas<br />Que fios crespos de ouro vão cercando,<br />Se por entre esta luz a vista passa,<br /><br />Raios de ouro verá, que as duvidosas<br />Almas estão no peito trespassando<br />Assim como um cristal o Sol trespassa.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />***************************************<br /><br /><strong>No mundo quis o Tempo que se achasse</strong><br /><br />No mundo quis o Tempo que se achasse<br />O bem que por acerto ou sorte vinha;<br />E, por exprimentar que dita tinha,<br />Quis que a Fortuna em mim se exprimentasse.<br /><br />Mas por que meu destino me mostrasse<br />Que nem ter esperanças me convinha,<br />Nunca nesta tão longa vida minha<br />Cousa me deixou ver que desejasse.<br /><br />Mudando andei costume, terra e estado,<br />Por ver se se mudava a sorte dura;<br />A vida pus nas mãos de um leve lenho.<br /><br />Mas, segundo o que o Céu me tem mostrado,<br />Já sei que deste meu buscar ventura<br />Achado tenho já que não a tenho.<br /><br /> <strong> Luís de Camões</strong><br /><br />***************************************<br /><br /><strong>No tempo que de amor viver soía*</strong><br /><br />No tempo que de amor viver soía,<br />Nem sempre andava ao remo ferrolhado;<br />Antes agora livre, agora atado,<br />Em várias flamas variamente ardia.<br /><br />Que ardesse n'um só fogo não queria<br />O Céu porque tivesse experimentado<br />Que nem mudar as causas ao cuidado<br />Mudança na ventura me faria.<br /><br />E se algum pouco tempo andava isento,<br />Foi como quem co'o peso descansou<br />Por tornar a cansar com mais alento.<br /><br />Louvado seja Amor em meu tormento,<br />Pois para passatempo seu tomou<br />Este meu tão cansado sofrimento!<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />*<em>Soía: era costume</em><br /><br />**************************************<br /><br /><strong>Perdigão perdeu a pena</strong><br /><br /><em>Perdigão perdeu a pena<br />Não há mal que lhe não venha.</em><br /><br />Perdigão que o pensamento<br />Subiu a um alto lugar,<br />Perde a pena do voar,<br />Ganha a pena do tormento.<br />Não tem no ar nem no vento<br />Asas com que se sustenha:<br />Não há mal que lhe não venha.<br /><br />Quis voar a u~a alta torre,<br />Mas achou-se desasado;<br />E, vendo-se depenado,<br />De puro penado morre.<br />Se a queixumes se socorre,<br />Lança no fogo mais lenha:<br />Não há mal que lhe não venha.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br /><br /><br /><strong>Recolha de Manuel Mendes</strong><br /><br />***************************************<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4_kZANL_srPAS1-qrbiJIz3SDv06FFA7erptahbV3nW8TmBfAdq2YR23RSoPGfrGb64uV6DUqN6f65zN7a0siBcom3mG2h7jAHj3OFdqxHBX2gpwguh8Idin-feumj_XDmT1OHVYF3l8/s1600-h/1578344.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 176px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4_kZANL_srPAS1-qrbiJIz3SDv06FFA7erptahbV3nW8TmBfAdq2YR23RSoPGfrGb64uV6DUqN6f65zN7a0siBcom3mG2h7jAHj3OFdqxHBX2gpwguh8Idin-feumj_XDmT1OHVYF3l8/s200/1578344.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355700406486102210" /></a><br /><strong>Lembranças saudosas, se cuidais</strong><br /><br />Lembranças saudosas, se cuidais<br />De me acabar a vida neste estado,<br />Não vivo com meu mal tão enganado,<br />Que não espere dele muito mais.<br /><br />De longo tempo já me costumais<br />A viver de algum bem desesperado:<br />Já tenho co'a Fortuna concertado<br />De sofrer os tormentos que me dais.<br /><br />Atada ao remo tenho a paciência<br />Para quantos desgostos der a vida;<br />Cuide quanto quiser o pensamento.<br /><br />Que pois não posso ter mais resistência<br />Para tão dura queda, de subida,<br />Aparar-lhe-ei debaixo o sofrimento.<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />*******************************<br /><br /><strong>Com grandes esperanças já cantei</strong><br /><br /><br />Com grandes esperanças já cantei,<br />com que os deuses no Olimpo conquistara;<br />despois vim a chorar, porque cantara;<br />e agora choro já, porque chorei.<br /><br />Se cuido nas passadas que já dei,<br />custa-me esta lembrança só tão cara<br />que a dor de ver as mágoas, que passara,<br />tenho pola mor mágoa, que passei.<br /><br />Pois logo, se está claro que um tormento<br />dá causa que outro n'alma se acrescente,<br />já nunca posso ter contentamento.<br /><br />Mas esta fantasia se me mente?<br />Oh! ocioso e cego pensamento!<br />Ainda eu imagino em ser contente!<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />****************************************<br /><br /><strong>Tanto de meu estado me acho incerto</strong><br /><br />Tanto de meu estado me acho incerto,<br />Que em vivo ardor tremendo estou de frio;<br />Sem causa, juntamente choro e rio;<br />O mundo todo abarco e nada aperto.<br /><br />É tudo quanto sinto um desconcerto;<br />Da alma um fogo me sai, da vista um rio;<br />Agora espero, agora desconfio,<br />Agora desvario, agora acerto.<br /><br />Estando em terra, chego ao Céu voando;<br />Nu~a hora acho mil anos, e é de jeito<br />Que em mil anos não posso achar u~a hora.<br /><br />Se me pergunta alguém porque assim ando,<br />Respondo que não sei; porém suspeito<br />Que só porque vos vi, minha Senhora.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />*************************************<br /><br /><strong>Se tanta pena tenho merecida</strong><br /><br />Se tanta pena tenho merecida<br />Em pago de sofrer tantas durezas,<br />Provai, Senhora, em mim vossas cruezas,<br />Que aqui tendes u~a alma oferecida.<br /><br />Nela experimentai, se sois servida,<br />Desprezos, desfavores e asperezas,<br />Que mores sofrimentos e firmezas<br />Sustentarei na guerra desta vida.<br /><br />Mas contra vosso olhos quais serão?<br />Forçado é que tudo se lhe renda,<br />Mas porei por escudo o coração.<br /><br />Porque, em tão dura e áspera contenda,<br />Fé bem que, pois não acho defensão,<br />Com me meter nas lanças me defenda.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />**********************************<br /><br /><em>Esparsa </em><br /><br /><strong>Ao desconcerto do Mundo</strong><br /><br />Os bons vi sempre passar<br />No Mundo graves tormentos;<br />E pera mais me espantar,<br />Os maus vi sempre nadar<br />Em mar de contentamentos.<br /><br />Cuidando alcançar assim<br />O bem tão mal ordenado,<br />Fui mau, mas fui castigado.<br />Assim que, só pera mim,<br />Anda o Mundo concertado.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br /><strong>Recolha de Sílvia Moreira</strong><br /><br />**********************************************<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2qXTaVvIqjHRd5s-6v0wupoWbSRbPA3QN7ZY1xcah6cKs5sxg0X6ayhEk0EUyTF8u0csJ1-fpcYxYM4Ou2fzzm8cgyWDjUuYztvbylMa1zTaA02PRFSz7AO-yBMVwHT1CYNasf2edkpI/s1600-h/418px-Nymph_with_morning_glory_flowers.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 147px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2qXTaVvIqjHRd5s-6v0wupoWbSRbPA3QN7ZY1xcah6cKs5sxg0X6ayhEk0EUyTF8u0csJ1-fpcYxYM4Ou2fzzm8cgyWDjUuYztvbylMa1zTaA02PRFSz7AO-yBMVwHT1CYNasf2edkpI/s200/418px-Nymph_with_morning_glory_flowers.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355704027700754562" /></a><strong>Amor, co'a esperança já perdida</strong><br /><br />Amor, co'a esperança já perdida<br />Teu soberano templo visitei;<br />Por sinal do naufrágio que passei,<br />Em lugar dos vestidos, pus a vida.<br /><br />Que mais queres de mim, pois destruída<br />Me tens a glória toda que alcancei?<br />Não cuides de render-me, que não sei<br />Tornar a entrar onde não há saída.<br /><br />Vês aqui vida, alma e esperança,<br />Doces despojos de meu bem passado,<br />Enquanto o quis aquela que eu adoro.<br /><br />Nelas podes tomar de mim vingança;<br />E se te queres ainda mais vingado,<br />Contenta-te co'as lágrimas que choro.<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />***********************************<br /><br /><strong>Do Tempo que Fui Livre me Arrependo</strong><br /><br /> <br />O culto divinal se celebrava <br />No templo donde toda criatura <br />Louva o Feitor divino, que a feitura <br />Com seu sagrado sangue restaurava. <br /><br />Amor ali, que o tempo me aguardava <br />Onde a vontade tinha mais segura, <br />Com uma rara e angélica figura <br />A vista da razão me salteava. <br /><br />Eu crendo que o lugar me defendia <br />De seu livre costume, não sabendo <br />Que nenhum confiado lhe fugia, <br /><br />Deixei-me cativar; mas hoje vendo, <br />Senhora, que por vosso me queria, <br />Do tempo que fui livre me arrependo.<br /><br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />***********************************<br /><br /><br /><strong>Num bosque, que das Ninfas se habitava</strong><br /><br />Num bosque, que das Ninfas se habitava,<br />Sibela, Ninfa linda, andava um dia;<br />E subida nũa árvore sombria,<br />As amarelas flores apanhava.<br /><br />Cupido, que ali sempre costumava<br />A vir passar a sesta à sombra fria,<br />Num ramo arco e setas, que trazia,<br />Antes que adormecesse, pendurava.<br /><br />A Ninfa, como idóneo tempo vira<br />Para tamanha empresa, não dilata;<br />Mas com as armas foge ao moço esquivo.<br /><br />As setas traz nos olhos, com que tira.<br />Ó pastores! fugi, que a todos mata,<br />Senão a mim, que de matar-me vivo.<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />******************************<br /><br /><strong>Se somente hora alguma em vós piedade</strong><br /><br />Se somente hora alguma em vós piedade<br />De tão longo tormento se sentira,<br />Amor sofrera, mal que eu me partira<br />De vossos olhos, minha saudade.<br /><br />Apartei-me de vós, mas a vontade,<br />Que por o natural na alma vos tira,<br />Me faz crer que esta ausência é de mentira;<br />Porém venho a provar que é de verdade.<br /><br />Ir-me-ei, Senhora; e neste apartamento<br />Lágrimas tristes tomarão vingança<br />Nos olhos de quem fostes mantimento.<br /><br />Desta arte darei vida a meu tormento,<br />Que, enfim, cá me achará minha lembrança<br />Sepultado no vosso esquecimento.<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />****************************************<br /><br /><strong>Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades</strong><br /><br />Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,<br />Muda-se o ser, muda-se a confiança;<br />Todo o mundo é composto de mudança,<br />Tomando sempre novas qualidades.<br /><br />Continuamente vemos novidades,<br />Diferentes em tudo da esperança;<br />Do mal ficam as mágoas na lembrança,<br />E do bem, se algum houve, as saudades.<br /><br />O tempo cobre o chão de verde manto,<br />Que já coberto foi de neve fria,<br />E em mim converte em choro o doce canto.<br /><br />E, afora este mudar-se cada dia,<br />Outra mudança faz de mor espanto:<br />Que não se muda já como soía.<br /><br /> <strong> Luís de Camões</strong><br /><br /><br /><strong>Recolha de Sidónio Augusto Vieira</strong><br /><br />************************************<br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjT_wXsODGRwEXGfUSgTBhcA-_jupqihtC0h01ofR1dDtEczfwPEOknCpUQJCFOWRugmowz0txKbuAS56oZS9j5IG2L-VtwmpxEqa6YnjLkRqMvL59xCxBX5BJeLJDUlUQP4I5FEOQFrVo/s1600-h/angel_melodies.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 200px; height: 148px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjT_wXsODGRwEXGfUSgTBhcA-_jupqihtC0h01ofR1dDtEczfwPEOknCpUQJCFOWRugmowz0txKbuAS56oZS9j5IG2L-VtwmpxEqa6YnjLkRqMvL59xCxBX5BJeLJDUlUQP4I5FEOQFrVo/s200/angel_melodies.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355705238858605490" /></a><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><strong>Endechas a Bárbara escrava</strong><br /><br /><br />Aquela cativa<br />Que me tem cativo,<br />Porque nela vivo<br />Já não quer que viva.<br />Eu nunca vi rosa<br />Em suaves molhos,<br />Que pera meus olhos<br />Fosse mais fermosa.<br /><br />Nem no campo flores,<br />Nem no céu estrelas<br />Me parecem belas<br />Como os meus amores.<br />Rosto singular,<br />Olhos sossegados,<br />Pretos e cansados,<br />Mas não de matar.<br /><br />U~a graça viva,<br />Que neles lhe mora,<br />Pera ser senhora<br />De quem é cativa.<br />Pretos os cabelos,<br />Onde o povo vão<br />Perde opinião<br />Que os louros são belos.<br /><br />Pretidão de Amor,<br />Tão doce a figura,<br />Que a neve lhe jura<br />Que trocara a cor.<br />Leda mansidão,<br />Que o siso acompanha;<br />Bem parece estranha,<br />Mas bárbara não.<br /><br />Presença serena<br />Que a tormenta amansa;<br />Nela, enfim, descansa<br />Toda a minha pena.<br />Esta é a cativa<br />Que me tem cativo;<br />E. pois nela vivo,<br />É força que viva.<br /><br /> <strong>Luís de Camões</strong><br /><br />***********************************<br /><br /><br /><strong>Nunca em amor danou o atrevimento</strong><br /><br />Nunca em amor danou o atrevimento;<br />Favorece a Fortuna a ousadia;<br />Porque sempre a encolhida cobardia<br />De pedra serve ao livre pensamento.<br /><br />Quem se eleva ao sublime Firmamento,<br />A Estrela nele encontra que lhe é guia;<br />Que o bem que encerra em si a fantasia,<br />São u~as ilusões que leva o vento.<br /><br />Abrir-se devem passos à ventura;<br />Sem si próprio ninguém será ditoso;<br />Os princípios somente a Sorte os move.<br /><br />Atrever-se é valor e não loucura;<br />Perderá por cobarde o venturoso<br />Que vos vê, se os temores não remove.<br /><br /> <strong> Luís de Camões</strong><br /><br />************************************<br /><br /><strong>Doces lembranças da passada glória</strong><br /><br />Doces lembranças da passada glória,<br />Que me tirou fortuna roubadora,<br />Deixai-me descansar em paz uma hora,<br />Que comigo ganhais pouca vitória.<br /><br />Impressa tenho na alma larga história<br />Deste passado bem, que nunca fora;<br />Ou fora, e não passara: mas já agora<br />Em mim não pode haver mais que a memória.<br /><br />Vivo em lembranças, morro de esquecido<br />De quem sempre devera ser lembrado,<br />Se lhe lembrara estado tão contente.<br /><br />Oh quem tornar pudera a ser nascido!<br />Soubera-me lograr do bem passado,<br />Se conhecer soubera o mal presente.<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />**************************************<br /><br /><strong>Depois que quis Amor que eu só passasse</strong><br /><br /><br />Depois que quis Amor que eu só passasse<br />Quanto mal já por muitos repartiu,<br />Entregou-me à Fortuna, porque viu<br />Que não tinha mais mal que em mim mostrasse.<br /><br />Ela, porque do Amor se avantajasse<br />Na pena a que ele só me reduziu,<br />O que para ninguém se consentiu,<br />Para mim consentiu que se inventasse.<br /><br />Eis-me aqui vou com vário som gritando,<br />Copioso exemplário para a gente<br />Que destes dois tiranos é sujeita;<br /><br />Desvarios em versos concertando.<br />Triste quem seu descanso tanto estreita,<br />Que deste tão pequeno está contente!<br /><br /><strong>Luís de Camões</strong><br /><br />*************************************<br /><br /><strong>Julga-me a gente toda por perdido</strong><br /><br />Julga-me a gente toda por perdido,<br />Vendo-me tão entregue a meu cuidado,<br />Andar sempre dos homens apartado<br />E dos tratos humanos esquecido.<br /><br />Mas eu, que tenho o mundo conhecido,<br />E quase que sobre ele ando dobrado,<br />Tenho por baixo, rústico, enganado<br />Quem não é com meu mal engrandecido.<br /><br />Vá revolvendo a terra, o mar e o vento,<br />Busque riquezas, honras a outra gente,<br />Vencendo ferro, fogo, frio e calma;<br /><br />Que eu só em humilde estado me contento<br />De trazer esculpido eternamente<br />Vosso fermoso gesto dentro na alma.<br /><br /> <strong> Luís de Camões</strong><br /><br /><br /><strong>Recolha de Arnaldina Moreira</strong><br /><div style="width:425px;text-align:left" id="__ss_1716402"><a style="font:14px Helvetica,Arial,Sans-serif;display:block;margin:12px 0 3px 0;text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes/cames-vida-e-epopeia" title="Camões, vida e epopeia">Camões, vida e epopeia</a><object style="margin:0px" width="425" height="355"><param name="movie" value="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayer2.swf?doc=apresentao3cames-090713150941-phpapp01&stripped_title=cames-vida-e-epopeia" /><param name="allowFullScreen" value="true"/><param name="allowScriptAccess" value="always"/><embed src="http://static.slidesharecdn.com/swf/ssplayer2.swf?doc=apresentao3cames-090713150941-phpapp01&stripped_title=cames-vida-e-epopeia" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="355"></embed></object><div style="font-size:11px;font-family:tahoma,arial;height:26px;padding-top:2px;">View more <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/">presentations</a> from <a style="text-decoration:underline;" href="http://www.slideshare.net/maria.j.fontes">maria.j.fontes</a>.</div></div>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-47556040097475242232009-05-29T16:31:00.002+01:002009-05-29T16:34:56.900+01:00"Maria", José AfonsoMaria<br />Nascida no monte<br />À beira da estrada<br />Maria<br />Bebida na fonte<br />Nas ervas criada<br /><br />Talvez<br />Que Maria se espante<br />De ser tão louvada<br />Mas não<br />Quem por ela se prende<br />De a ver tão prendada<br /><br />Maria<br />Nascida no trevo<br />Criada no trigo<br />Quem dera<br />Maria que o trevo<br />Casara comigo<br /><br />Maria<br />De todos a primeira<br />De todas menina<br />Maria<br />Soubera a cigana<br />Ler a tua sina<br /><br />Não sei<br />Se deveras se engana<br />Quem demais se afina<br />Maria<br />Sol da madrugada<br />Flor de tangerina<br /><br />José Afonso<br /><br /><br />Recolha colectiva dos formandos deste curso e da Formadora de Linguagem e ComunicaçãoO Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-48272400833387906842009-05-21T22:58:00.007+01:002009-05-25T20:54:11.148+01:00"Quando eu morrer", Mário de Sá-CarneiroQuando eu morrer batam em latas, <br />Rompam aos altos e aos pinotes,<br />Façam estalar no ar chicotes,<br />Chamem palhaças e acrobatas!<br /><br />Que o meu caixão vá sobre um burro<br />Ajaezado à andaluza...<br />A um morto nada se recusa <br />E eu quero por força ir de burro!<br /><br />Sá-Carneiro, Mário de <strong>in</strong> Fanha, José, Letria, José Jorge(org.)- <em>Cem Poemas Portugueses do Riso e do Maldizer</em>. Cascais: Ed. Terramar,2008,p.74<br /><br />Recolha de Isaura Pereira <br /><br /><strong><strong>* Obra do acervo da Biblioteca desta escola</strong></strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-31949390408627572122009-05-21T22:47:00.008+01:002009-05-22T13:56:06.050+01:00"AS FONTES", Sebastião da GamaHavia fontes na montanha.<br />Mas estavam fechadas.<br />Ignoradas,<br />beijavam só as vaias da montanha.<br /><br />Ora um dia<br />não sei que vento passou<br />que me ensinou<br />aquelas fontes que havia.<br /><br />Eu tinha mãos e mocidade;<br />só não sabia pra quê.<br />Fez-se nesse momento claridade.<br /><br />Rasguei o ventre dos montes <br />e fiz correr as fontes<br />à vontade.<br /><br />Então<br />veio quem tinha sede e quem não tinha.<br />De todas as aldeias<br />vieram, cantando, as moças<br />encher as bilhas.<br />E eu fui também cantando ao som das águas...<br /><br />Cantava as minhas mãos, cantava as fontes.<br />Era um canto jucundo,<br />cheio de sol.<br />Mas a meio da nota mais alegre<br />muita vez uma lágrima nascia.<br /><br />(Ai quantos, quantos,<br />minha canção tornava mais conscientes<br />da sua melancolia<br />sem remédio!<br />Ai a mágoa<br />que lhes era meu hino!<br />Ai o insulto desumano<br />à sua melancolia!)<br /><br />Era a meio do canto que surgia<br />seu travo amargo...<br /><br />Mas, a meu lado, as águas<br />iam matando a sede de quem vinha...<br /><br /><br />Gama,Sebastião - <em>Cabo da Boa Esperança</em>. Lisboa:Editora Ática,s/d pp.22-24<br /><br />Recolha de Sidónio Vieira<br /><br /><strong><strong>* Obra do acervo da Biblioteca desta escola</strong></strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-68907626382178528872009-05-21T22:44:00.008+01:002009-05-22T12:28:28.046+01:00"Passei toda a noite, sem dormir", Alberto CaeiroVI<br /><br />Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,<br /><br />Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,<br />E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.<br />Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,<br />E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.<br />Amar é pensar.<br />E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.<br />Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.<br />Tenho uma grande distracção animada.<br />Quando desejo encontrá-la<br />Quase que prefiro não a encontrar,<br />Para não ter que a deixar depois.<br />Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. <br />Quero só pensar [n]ela.<br />Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.<br /><br /><br /> Alberto Caeiro<br /><br /><br /><br /><br /><br />Caeiro , Alberto - <em>Poesia</em>. Lisboa: Assírio & Alvim,2004,p.96<br /><br />Recolha de Isaura PereiraO Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-76451775242813165382009-05-21T22:43:00.005+01:002009-05-22T13:56:33.054+01:00"Raízes", Jorge Sousa BragaQuem me dera ter raízes, <br />que me prendessem ao chão. <br />Que não me deixassem dar<br />um passo que fosse em vão.<br /><br />Que me deixassem crescer<br />silencioso e erecto,<br />como um pinheiro de riga,<br />uma faia ou um abeto.<br /><br />Quem me dera ter raízes,<br />raízes em vez de pés.<br />Como o lódão, o aloendro, <br />o ácer e o aloés. <br /><br />Sentir a copa vergar, <br />quando passasse um tufão. <br />E ficar bem agarrado,<br />pelas raízes, ao chão.<br /><br />Braga, Jorge Sousa - <em>Herbário</em>. Lisboa: Assírio & Alvim,2007,p.26<br /><br />Recolha de João Fernandes<br /><br /><strong><strong>* Obra do acervo da Biblioteca desta escola</strong></strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-25060519048679576472009-05-21T22:42:00.007+01:002009-05-22T14:35:29.360+01:00"Mulher", Yvette K. Centenoquando o ventre é o mar<br />quando o ventre é a água<br />salgada<br />numa boca<br />quando o ventre é a fonte<br />quando o ventre é a forca<br /><br />Centeno, Yvette K. <strong>in</strong> Fanha, José, Letria,José Jorge (org.)- <em>Cem Poemas Portugueses no Feminino</em>. Cascais: Ed. Terramar,2005<br /><br />Recolha de Olga Pereira<br /><br /><strong><strong>*Obra do acervo da Biblioteca desta escola</strong></strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-9631164690267548582009-05-21T22:41:00.009+01:002009-05-22T14:37:20.272+01:00"Seus Olhos" , Almeida GarrettSeus olhos - se eu sei pintar<br />O que os meus olhos cegou-<br />Não tinham luz de brilhar.<br />Era chama de queimar;<br />E o fogo que a ateou<br />Vivaz, eterno, divino,<br />Como facho do Destino.<br /><br />Divino, eterno!- e suave<br />Ao mesmo tempo: mas grave<br />E de tão fatal poder,<br />Que, um só momento que a vi,<br />Queimar toda a alma senti...<br />Nem ficou mais de meu ser,<br />Senão cinza em que ardi.<br /><br /><br />Garrett, Almeida <strong>in</strong> Fanha, José, Letria, José Jorge (org.) - <em>Cem Poemas Portugueses do Adeus e da Saudade</em>. Cascais: Ed. Terramar,2004,Pág. 47<br /><br />Recolha de Ricardo Pinto<br /><br /><strong><strong>* Obra do acervo da Biblioteca desta escola</strong></strong><strong></strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-71677825254146045302009-05-21T22:29:00.006+01:002009-05-22T14:37:54.550+01:00"Despedidas ao Tejo", BocageNão mais, ó Tejo meu, formoso e brando.<br />À margem fértil de gentis verdores,<br />Terás d'alta Ulisseia um dos cantores<br />Suspiros no áureo metro modulando:<br /><br />Rindo não mais verá, não mais brincando<br />Por entre as ninfas, e por entre as flores,<br />O coro divinal dos nus Amores,<br />Dos Zéfiros azuis o afável bondo:<br /><br />Co'a fronte já sem mirto, e já sem louro,<br />O arrebata de rojo a mão da Sorte<br />Ao clima salutar, e à margem de ouro:<br /><br />Ei-lo em fragas de horror, sem luz, sem morte,<br />Soa daqui, dali piado agouro;<br />Sois vós, desterro eterno, ermos da morte!<br /><br /><br />Bocage, Manuel Maria Barbosa du <strong>in</strong> Fanha, José, Letria, José Jorge (org.) - <em>Cem Poemas Portugueses do Adeus e da Saudade</em>. Cascais: Ed. Terramar,2004,Pág. 41<br /><br />Recolha de Ricardo Pinto<br /><br /><strong><strong>* Obra do acervo da Biblioteca desta escola</strong></strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-53551106245988894302009-05-21T22:28:00.008+01:002009-05-22T13:57:59.525+01:00"Desci dos celestes coros", Júlio DinisDesci dos celestes coros,<br />Por Deus mandada a escutar<br />Da infância as queixas e os choros,<br />para lhos ir confiar.<br /> <br />Desci.Na terra nos mares,<br />Tanta miséria encontrei,<br />Que os meus magoados olhares.<br />Da terra e mar desviei.<br /><br />Desci.E tantos gemidos.<br />Tão dolorosos ouvi!<br />Que, turbados os sentidos,<br />Quis recuar...mas desci.<br /><br />(...)<br /><br />Dinis, Júlio - <em>A Morgadinha dos Canaviais</em>. Mem-Martins: Ed. Europa-América,1973, p.180<br /><br />Recolha de Arnaldina Moreira<br /><br /><br /><strong><strong>* Obra do acervo da Biblioteca desta escola</strong></strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-28243982206607366092009-05-21T22:26:00.011+01:002009-05-22T12:46:33.280+01:00"O burro de Loulé", Eugénio de AndradeEra um burro muito burro,<br />ou melhor, era pateta,<br />pois vinha de Loulé,<br />sem ser coxo nem perneta,<br />sempre,sempre sobre um pé.<br /><br /><br />Andrade, Eugénio - <em>Aquela nuvem e outras.</em> Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2005 ,pág. 5<br /><br />Recolha de João Fernandes<br /><br /><strong><strong>* Obra do acervo da Biblioteca desta escola</strong></strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-35646224266328361732009-05-21T22:26:00.009+01:002009-05-21T23:13:24.965+01:00"A música na origem do Mundo"<em>Muitas teorias sobre o nascimento do cosmos, na antiguidade, estabeleciam uma íntima relação entre a música e a divindade, desde os mitos da Mesopotânia até ao filósofo Platão,que, no "Timeu", coloca a hipótese da existência de uma música celeste produzida pelo movimento orbital dos planetas. (...)Há um mito sumério que narra a luta entre um deus bom, Manduk, e o dragão Tiamat. O cadáver de Timat deu origem a abóbada celeste(o céu)e a Terra.</em><br /><br /><br />Catucci, Stefano - <em>História da Música</em>. Porto: Porto Ed., 2001,p.13 (texto com supressões e adaptações)<br /><br />Recolha de José Augusto Gaspar<br /><br /><strong><strong>* Obra do acervo da Biblioteca desta escola</strong></strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-43864076687607478682009-05-21T22:24:00.005+01:002009-05-22T13:59:42.825+01:00"Despondency", Antero de QuentalDeixá-la ir, a ave, a quem roubaram<br />Ninho e filhos e tudo, sem piedade...<br />Que a leve o ar sem fim da soledade<br />Onde as asas partidas a levaram...<br /> <br />Deixá-la ir, a vela que arrojaram<br />Os tufões pelo mar, na escuridade,<br />Quando a noite surgiu da imensidade,<br />Quando os ventos do Sul se levantaram...<br /> <br />Deixá-la ir, a alma lastimosa,<br />Que perdeu fé e paz e confiança,<br />À morte queda, à morte silenciosa...<br /> <br />Deixá-la ir, a nota desprendida<br />Dum canto extremo... e a última esperança...<br />E a vida... e o amor... deixá-la ir, a vida!<br /><br />Antero de Quental<br /><br /><br /><br />Recolha de Jorge SilvaO Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-12773604687802365312009-05-21T22:23:00.010+01:002009-05-22T14:01:49.660+01:00"Canção de Embalar Bonequinhas Pobres", Matilde Rosa AraújoMenina dos olhos doces<br />Adormece ao meu cantar:<br />Tenho menina de trapos, <br />Tenho uma voz de luar...<br /><br /><br />Os meus braços são da lua,<br />Quando ela é quarto cescente:<br />Dorme menina de trapos,<br />Meu pedacinho de gente.<br /><br /><br />Dorme minha filha triste,<br />Meu farrapo de menina,<br />Dorme, porque eu sou a nuvem<br />que te serve de cortina.<br /><br /><br />Menina dos olhos doces<br />Adormece ao meu cantar:<br />Tenho menina de trapos,<br />Tenho uma voz de luar...<br /><br />Araújo, Matilde Rosa - <em>Livro da Tila</em>. Coimbra: Atlântida Editora, 1973, p. 23<br /><br />Recolha de Manuel Mendes<br /><br /><strong><strong>* Obra do acervo da Biblioteca desta escola</strong></strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-64198223658955135352009-05-21T22:23:00.008+01:002009-05-22T13:47:44.144+01:00"Nunca fala da Vida", Sebastião da GamaNunca fala da Vida<br />sem que entristeça...<br /><br />- Mas as flores que morrem<br />nascem outra vez...<br /><br />Mas pela ardentia<br />zunem as cigarras...<br /><br />Mas aquela moça<br />traz no ventre um filho...<br /><br />Mas das folhas secas<br />que há pelo Outono<br /><br />(de olhá-las a gente<br />quase entristecia)<br /><br />já ninguém se lembra,<br />quando é Primavera...<br /><br />Gama, Sebastião da - <em>Cabo da Boa Esperança</em>. Lisboa:Edições Ática,s/d, p.17<br /><br />Recolha de Sidónio Vieira<br /><br /><strong><strong>* Obra do acervo da Biblioteca desta escola</strong></strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-72160155817759746712009-05-21T22:22:00.021+01:002009-05-22T13:55:26.915+01:00"A BELEZA E A BONDADE", Manuel Francisco RodriguesA beleza encanta e fascina,<br />enchendo de amor o Mundo<br />e de doçura os corações.<br /><br />A beleza de uma oração...<br />A beleza de um quadro precioso...<br />A beleza de uma jóia rara...<br /><br />A beleza de uma escultura viva,<br />o perfume de uma flor,<br />o cintilar de uma estrela...<br /><br />A beleza do clarão da aurora,<br />a despedida silenciosa do ocaso,<br />ou a música sem fim da Via Láctea...<br /><br />A beleza da palavra bem delineada,<br />a beleza de um olhar doce,<br />a beleza de uma forma gentil...<br /><br />A beleza da harmonia,<br />a beleza do ritmo e da suavidade,<br />a beleza que torna possível o perfeito...<br /><br />............................................<br /><br />Mas toda a forma de beleza parece fria<br />e até talvez nem sequer exista<br />independentemente de quem a aprecia...<br />Porém se for emoldurada pela bondade,<br />então torna-se tão cristalina,<br />tão visível e convincente,<br />que até quem não a sente<br />a estima e gosta dela,<br />pressentindo que a beleza é mais bela<br />se, com a bondade e por ela<br />for como na escuridão<br />a luz da chama da vela.<br /><br />Rodrigues, Manuel Francisco - <em>A Estrada do Tempo</em>. Porto: Ed. do Autor, 1967, pp. 98-99.<br /><br />Recolha de Manuel Silva<br /><br /><strong><strong>* Obra do acervo da Biblioteca desta escola</strong></strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4187527369045710050.post-42554574417253212482009-05-21T22:22:00.020+01:002009-05-22T13:53:54.023+01:00"Lá vai outra vez o gato maltês", Eugénio de AndradeLá vai outra vez<br />o gato maltês<br />a comer atrás<br />da franga pedrês<br /><br />Andrade, Eugénio - <em>Aquela nuvem e outras.</em> Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2005,pág.12<br /><br />Recolha de João Fernandes<br /><br /><strong><strong>* Obra do acervo da Biblioteca desta escola</strong></strong>O Cantinho das Palavrashttp://www.blogger.com/profile/05755972074836695641noreply@blogger.com0